Esta casa tem é história pra contar....
a janela da esquerda, meu quarto de dormir
A conheço desde 1980, em meu retorno do Rio para Itaboraí.
Pertencia ao amigo Adamastor, que a franqueava para aquela juventude ávara por liberdade, por cultura, cidadania e pelo resgate histórico da cidade.
O Adamastor
Adamastor Camará Ribeiro para os mais novos que não o conheceram, ex-aluno do Colégio Salesiano Santa Rosa, fôra nos tempos de juventude , no pré-64, um talentoso dramaturgo, um dos fundadores do Teatro Novo, e pelo CPC da UNE junto com Oto Lara Resende, Carlos Nelson Grisoli, Augusto Boal, Carlos Vereza, José Wilker e Oduvaldo Viana Filho.
Dirigiu várias peças com elenco de ponta, .
Embora tendo iniciado no Teatro em 1959, seu trabalho só começa a aparecer em 1962, em Bonitinha mais Ordinária, como ator e co-produtor, junto com Grisoli, Lara Resende e outros 60 jovens talentos.
Em 1963 funda o grupo Mamabembe, em Niterói, e juntamente com sua noiva, a também atriz Enaura Abade Falcão, produz e dirige a peça "Electra de Sófocles".
Neste mesmo ano atua , sob direção de Augusto Boal , na peça "As famosas Asturianas , de Lope de Vega (adaptação de Boal).
Ainda em 63 , como diretor e roteirista , estréia o "Círculo de Giz, de Bretch.
Vem o golpe, e as atividades cênicas passam a ser reprimidas. Busca seu meio de sobrevivência, escrevendo para o jornal 'Correio da Manhã' a partir de 1967.
Passado o primeiro susto e com a crescente retomada do movimento revolucionário se contrapondo aos militares, o Teatro cresce de novo.
Adamastor volta a escrever e dirigir. Em 1968 - o ano que não terminou, estréia a peça O Barbeiro de Sevilha', com brilhane aparição de Adamastor como " o Notário ",
'O Capeta" e 'Ralé', de máximo Gorki (adaptação sua), contando em seu elenco com os "jovens" talentos da dramaturgia: Suzana Faini, Marília Pêra , Marcos Nanini e Luis Armando Queiroz, e 'Auto da Feira' , de Gil Vicente.
Em 69 apresenta 'Tres tempos de Poesia' : com poemas de Joaquim Cardoso e João Cabral de Melo Neto, e a comédia em 5 cenas " tempo de pescar " do dramaturgo francês Alfred Jarry.
Em 1970, faz uma releitura da peça "Colonia Penal", primeira adaptação brasileira ao texto de Franz Kafka.
Já compunha com Glauber, um grupo seleto de cineastas produtores, diretores e roteiristas do Cinema Novo.
Em 16 de fevereiro de 1971, como diretor e roteirista em "CAMINHOS DA COR" , fez a estréia de seu primeiro curta-metragem sobre as pinturas de Carlos Scliar .
Carlos Scliar, gaúcho, em sua pintura aproxima-se realmente da realidade, procurando chegar às coisas cotidianas cada objeto obtém em sua forma, um estímulo e significação. Em suas pinturas deformadas, de uma determinada época, deixa transparecer uma realidade social, apreensões, atribulações e inquietações desta camada social".
Ainda em 1971, como Diretor e Produtor do documentário "ACHMENTO DA TERRA BRASILIS " ( um enfoque da arte brasileira, baseando-se no texto da carta de Pero Vaz de Caminha e em quados do pintor Glauco Rodrigues ), participa do Festival de Cinema de Brasília.
Em 1972 é preso pelo famigerado Dops, acusado de dar abrigo a militantes do MR-8.
Após meses após detenção no Quartel da PE, da Barão de Mesquita, juntamente com outros de presos políticos, entre os quais Ivo Barbieri, é absolvido em 18 de setembro de 1972, retomando seus estudos acadêmicos História) , e passa a lecionar nas Universidades PUC/RJ e Santa Úrsula.
No início de 1980, adquiriu um sítio em Badureco, onde franqueava o acesso ao emergente movimento cultural da cidade de Itaboraí.
Além de seu vínculo com o INEPAC, escrevia ainda para o Jornal ARTEFATO. Especializou-se em cerâmica indígena, publicando diversos trabalhos sobre a cultura cerâmica dos sambaquis de Itaboraí.
É de sua autoria , pela Divisão e Pesquisa da Manifestação Cultural do Estado, da coletânea contendo 74 fontes bibliográficas, intitulada "ITABORAÍ - Algumas Referências Bibliográficas.", utilizada até hoje por pesquisadores, mas que infelizmente não o mencionam em seus trabalhos.
Dedicou-se de corpo e alma juntamente com Itamar e nossa queridinha Jisele de Lys, para que acontecesse a Iª Jornada de Cultura de Itaboraí (março/85), que completou seus 30 anos.
Depois mudou-se para Rondônia, indo viver e estudar a cultura dos povos indígenas no extremo norte do Brasil.
Retornou ao Rio em 18 de dezembro de 90, quando um infarte fulminante o subtraiu de nosso convívio.
Em sua casa , no Badureco, realizava a famosa "FESTA DAS BRUXAS.
Adamastor Camará Ribeiro, Presente !
A Casa do Adamastor
Ali, eram realizados os churrascos após as reuniões da A.U.I (Associação dos Universitários de Itaboraí), que naquele ano era presidida pelo Itamar Durvalino dos Santos, hoje no INSS e tesoureiro do Moto Clube da cidade. Em março de 1981, Paulo Roberto Cardoso assumia a direção da entidade, que funcionou até 82, quando, por conta da fragmentação do grupo em função de opções partidárias e principalmente pela graduação de quase todos, e sem renovação, extinguiu-se.
Lembro que em 82, ano da política pequena, eu precisavam me deslocar aos quatro cantos do município e como lecionava em Venda das Pedras, tornava-se oneroso e desgastante, durmir em casa (Papucaia). O tempo era precioso, para um dirigente partidário. E o melhor seria fixar residência em Itaboraí. Mas como se meu salário de professor (somados o CECADA, LEÃO XIII e CNEC Papucaia) era salário de fome ?
Pois Adamastor , que morava em Sá Ferreira, em Copa, me cedeu seu sítio no Badureco. E ali, confesso passei bons momentos.
nestes degraus ela se sentava, e eu bebia leite e sorvia o seu mel
Estes, quase sempre pela manhã, quando e era acordado por uma vizinha, de seus 17 anos. Ela batia à minha porta com um litro de leite e um potinho de mel.
A bela criança morava na casa em frente, e não se avexava em atravessar a rua e ir me acordar, vestindo apenas um baby-doll ou camisolinha florida de algodão.
Ela era uma delícia : Ela, o leite e o mel.
Sentava-se no degrau da porta de entrada ao meu lado, e ali conversávamos, às vezes por horas.
Queixava-se para mim, de ser tratada como a outra, por um certo professor zarôlha lá do Leão XIII.
Mas o que ela mais gostava era de ir até os fundos da casa. Me puxava pela mão e íamos até o pé de jaca, onde ela subia no tronco inclinado e ficava. Se espreguiçava no tronco, balançava-se nos galhos, e me pedia ajuda para descer, pois tinha medo de cair.
Ela, eu, o leite, o mel e o pé de jaca-manteiga.
assim-assado, a minha Piovani dos anos 80
A repressão ao sítio do Adamastor
Mas nem tudo foi mel naquele sítio.
Eu voltava das aulas após às 23 horas, e marchava por cerca de 5 quilômetros do asfalto até o sítio em Badureco, pois aquela hora não havia mais ônibus da Viação Fagundes.
Era um breu medonho pelo caminho. Só se via os vagalumes brilhando na estrada e barro, além do coachar dos grilos, e o cheiro de estrume de vaca no caminho.
Na casa, havia apenas uma cama de ferro com um colchão velho. Na cozinha um fogareiro à álcool, uma panelinha de ágata, onde eu fazia arroz com caldo Knnor.
Na sala um pequeno artefato de ferro para queimar folhas de eucalipto.
A água d poço, era no muque : bomba manual.
Ouvia frequentemente passos por sobre a folhagem seca dos cajueiros e mangueiras, mas achava ser algum animal em busca de alimento. Um quati, preá, tatu. Certa vez , cheguei a disparar um tiro de garruchinha para o alto. Mas enfim, como sou um ateu desassombrado, encostava a cabeça no travesseiro e tratava de dormir, pois às 5 tinha que estar de pé para as aulas da manhã.
Até que no finalzinho de outubro ao chegar das aulas à noite, encontrei a casa arrombada e o colchão rasgado ao meio , como que o "ladrão" estivesse a procurar documentos comprometedores !
Não pensei duas vezes : casa de papai em Papucaia.
No dia 29 de dezembro d 1982 eu soube quem era " o ladrão".
http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&cad=rja&uact=8&ved=0ahUKEwjugvCIr-HJAhXMF5AKHW3DD-MQFggkMAE&url=http%3A%2F%2Fvinholivrosehistoria.blogspot.com%2F2015%2F07%2Fjoaquim-metralha-do-ccc-como-morre-um.html&usg=AFQjCNGWcQSYy-qscLTmPnJndKKVU7DKtg&bvm=bv.110151844,d.Y2I
Como a Fênix renascida, A Festa das Bruxas : Badureco in'2016
Pois é. Voltei lá 33 anos depois, e a casa mudou muito desde que o novo dono se mudou para lá em 1995. Antes do atual, morou ali também a atriz Suzana Faini.
No entanto, muitas coisas ainda permanecem : alguns cajueiros, mangueiras, e o "nosso pé de jaca-manteiga".
Conversei demoradamente com o atual dono. Quem sabe , em 2016, uma proposta razoável e ... ele pode até aceitar uma venda ou permuta.
Mesmo que não fechemos uma proposta, ele concordou inicialmente que eu promova no início de março a reedição da Festa das Bruxas dos anos 80, agora como Badureco in'2016.
Então, amigas e amigos, de bons tempos : Preparem e desopilem seus seus fígados e desenferrujem seus quadris até lá.
Todos estão convidados para a comemoração dos meus 60 anos . ( menos é claro, o deputado corrupto, o vereador muquirana e o advogado francês )
O presente (como diz minha irmã) é o amor : " que não se vende, que não se compra, que não se pede emprestado."
Até lá !
Alberto Santos
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado pela visita!