“ eu vejo o futuro (presente)
repetir o passado, eu vejo um museu de
grandes novidades .O tempo não pára. Não pára, não, não pára !”
(Cazuza/Arnaldo Brandão)
Preâmbulo
(Cazuza/Arnaldo Brandão)
Preâmbulo
Muitos sonham
com a factibilidde de um tal ‘ elixir da juventude ’ , ou mesmo a possibilidade
do transporte de matéria , através de um hipotético túnel do tempo. Puro devaneio daqueles que se perderam em
anos : a Roda do Tempo e da História só se move em sentido único !
Mas há que se
falar em repetição histórica. E ao que me parece, vivo isto neste exato
momento: na beirola dos sessenta e
caminhando célere para bater a cassuleta, ainda assim me sinto como Fênix, - renascido : com o fôlego , desejos e volúpias daqueles
meus saudosos 25 anos de idade . O trabalho, as conjecturas, o estudo, a História como fonte para a transformação,
e agora a volta do brilho nos meus olhos. Enfim, só mudam mesmo a conjuntura e as personagens.
Ao iniciar a
compilação deste modesto texto, rememorei
tardes inenarráveis , nos idos de 1981. O chopinho e o quibe crú com coalhada no Restaurante Rio
Safita (na Glória) em companhia do amigo Adamastor Camará, e dali as esticadas até
o apartamento de Darcy Ribeiro, no Leblon. Era o máximo estar ali rodeando a
nata do pensamento crítico nacional : Darcy, Houaiss, Adamastor, Grisoli, Scliar,
e às vezes Wadi Salomão. Eu não dava um pio, um pum sequer ! Sorvia cada
intervenção, conjectura , a retórica de cada
um daqueles monstros da cultura, suas réplicas e tréplicas. Tudo sempre regado
a um bom uísque importado. Haviam pausas e às vezes algumas representações cênicas
de xavantes ou txucarramães seminús, que costumavam se hospedar no apê de Darcy.
Lá pelas tantas, eu deixava o Adamastor na Sá Ferreira, onde morava, e retornava à Itaboraí, no fusquinha que ele me emprestava, rumo ao sítio em Badureco.
1981, o meu
ano, que não terminou,... ainda !
( grifos meus, em negrito. Notas, adendo ou comentário meu, em vermelho)
A presente postagem faz parte de uma série de publicações específicas, - iniciada em 09/01/2015 com a história da ex-escrava Elisiária da Conceição-, totalizando 13 (sem esta) com 956 visualizações, versando sobre os primórdios do Vale e Sertões do Macacú, da antiga povoação do Cassarabu, cujo primeiro registro notável , data da década 70 do século XVI , e descreve a expedição de Padre Antônio Vieira ao aldeamento dos índios de São Barnabé, pelos cursos do Aldêia e do Macacú.
¹ provavelmente haveremos de encontrar algum registro anterior a este sobre expedições francesas na barra do Macacú.
íntegra em :
Do capitalismo primitivo ao selvagem : as febres do Macacú e a tragédia do Rio Doce
planta plotamográfica de Luis de Souza Vilhena e Amador Verissimo de Aleteia - 1801
(vemos no mapa acima, o Rio Macacú, ao lado do Guaxindiba, (Manuscrito contendo coleção de mapas e notícias Soteropolitanas e do Espírito Santo ), .... e no extremo da Carta plotamográfica vemos ainda o S.Thomé e o saudoso e falecido Rio Doce.)
É lugar comum, atribuir-se a Vieira Leão, a primeira descrição detalhada da bacia hidrográfica do Macacu, datada de 1776. Outros também o fizeram posteriormente, como Saldanha da Gama , em 1819 e Mendes Antas, em 1855. Isto sem falar no Memorial Descriptivo do districto da extinta Vila de Santo Antônio de Sá (¹), elaborado pelo capitão-mór Francisco de Amorim Lima, em 1797, onde ele descreve a totalidade dos rios, córregos, riachos e lagoas, bem como as observações e descrições de Monsenhor Pizarro, e mais recentemente (séc.XX) por J. Mattoso Maia Forte e Alberto Lamego.
(¹) http://vinholivrosehistoria.blogspot.com.br/2015/09/o-desconhecido-relator-e-o-memorial.html
Hoje me ocuparei especificamente da questão dos pântanos do Macacú e suas febres paludosas .
No entretanto, para descargo de consciência, não posso deixar de antes traçar um paralelo entre as febres de 1828 e o desastre ambiental provocado pela Samarco em 2015, ( ambos criminosos )em face à similitude entre o extermínio de milhares de almas no séc. XIX em Macacú, no RJ, e a morte do Rio Doce, em MG, neste primeiro quartel do séc.XXI : a intervenção desastrosa do homem que coloca em perigo a vida de todos levando morte e degradação ao ecossistema.
Ontem um único e opulento indivíduo. Hoje uma poderosa corporação : do capitalismo primitivo ao selvagem, Domingos Leão e Samarco são farinhas de um mesmo e único saco.
Não há mesmo que se falar destes dois eventos, tipificando-os como " acidentes " : ambas intervenções foram criminosas, levadas a cabo com iminentes riscos presumíveis !
Portanto, trago para leitura a transcrição de um memorial (ou Memória Descriptiva) datado de 1846, como sendo o primeiro estudo sobre as prováveis causas das febres de 1828, que dizimaram uma população inteira, trazendo ocaso e ruína a então fértil e promissora vila.
Este estudo foi elaborado por Felício Fortes de Bustamante Sá., Chefe do 7º distrito de Santo Antônio de Sá, fazendeiro, publicista e político tradicional das plagas de São José da Boa Morte, onde sua família além de vastas propriedades , era detentora da maior Olaria da região, além da primeira (e única) tipografia em Macacú , no Primeiro Império.
O PROVINCIANO
FLUMINENSE: pela data de sua fundação, 1830, provavelmente teria sido o
primeiro periódico da região. Neste exemplar único microfilmado pela Biblioteca
Nacional em 1988, e datado de 1835, bem deteriorado, podemos ver em suas 4
páginas notícias interessantes, como o Edital proibindo que os negros saissem à
rua em dia santo, e à noite, caracterizando ainda, como crime, a reunião com
mais de seis negros em tavernas ou em via pública. Outra notícia interessante é
sobre o último guardião do Convento S.Boaventura, frei Theotonio de Sana
Humiliana, pleiteando recursos ao governo para cobrir as despesas com o
atendimento aos doentes "das febres", visto que o Convento fora
transformado em hospital. Na folha de rosto vemos onde era rodado: na Typografa
Macacuense, de propriedade do irmãos Alexandre e Felício Fortes de Bustamante
Sá .
" Memória descriptiva dos pântanos do município de Santo
Antonio de Sá com a exposição das principais circumstancias que tornarão a sua
existência sensivelmente differente do seu estado primitivo, acompanhada de
algumas considerações sobre os inconveniente produzidos por esta mudança de
estado, e terminada pela indicação do meios de seu dessecamento. "
Descripção topographica d’estes
pantanos
Os municípios
de Santo Antonio de Sá, Magé e também o de Itaborahy são banhados por um
pântano que estende no sentido L O desde os mangues da Bahia de Nictheroy até a
freguezia da Santíssima Trindade do 1º município.
A parte que
pertence á Itaborahy principia em Itamby, que segue pela margem esquerda do rio
Macacú, envolvendo o do Porto das Caixas até o Arraial d’este mesmo nome,
dirige-se pela esquerda do Cassarebú, e termina no logar da Combica: esta parte
do pântano que se communica com o de Magé pelo rio Macacú até a foz do
Cassarebú, e com o Santo Antonio de Sá pelo mesmo Cassarebú até o logar da
Patitiba, à quem da Combica, cobrirá uma superfície de 400.000 braças quadradas.
A parte pertencente
ao districto de Santo Antonio de Sá, formando um saliente em contacto, com esta
pela divisa de Itaborahy, segue as sinuosidades do Cassarebú desde a sua foz até
a fazenda dos Palhares na Patitiba,, por uma superfície de 2.000.000 de braças
quadradas, communica-se com a de Magé no ngulo da confluência do Cassarebú e
Macacú, e d’ahi pela margem esquerda do Guapiassú desde a sua foz no Macacú até
os morros de Pirassununga, internando-se pelo município de Macacú na direção L
O até a freguezia da Trindade; tendo por limites ao sul a margem direita do
Macacú, e ao norte os morros de Pirassununga, Morobahy, Rabello e Pico, e
comprehendendo uma superfície de cerca de 18.000.000 de braças quadradas.
A parte comprehendida no districto de Magé, de
certo mais considerável, e tão nociva como esta, em contacto com as precedentes
pelos limites referidos a L e S, estende-se aos mangues na direção L O, e
termina nos terrenos elevados da Villa de Magé, e morros adjacentes à serra em
direção à Pirassununga, abrangendo uma
superfície de mais de 2 ¹/² léguas quadradas.
Os esgotos
naturaes destes páues são : no que
pertence à Itaborahy os rios Porto das
Caixas e o Cassarebú; na parte de Macacú, o rio d’este mesmo nome, o mesmo
Cassarebú, o Guapiassú, o dos Morros, o do Entulho, do Pinto, e do Trimerim; na
que toca a Magé os mesmos rios Macacú e
Guapiassú, Guapemirim, o Guarahy, o Magémirim, e o Magé. A exceção do Macacú,
Guapiassú e Magé, que entretem uma navegação activa, todos o mais, embora com
alguma navegação, como o Guapemirim, acham-se tão obstruídos de vegetais
aquáticos, e outros obstáculos, e suas águas tem tão retardado movimento, que
apenas se sente alguma corrente, parecendo que estão em perfeito equilíbrio.
Dizendo acima
que os pântanos do districto de Santo Antonio de Sá, se limitão ao sul pela
margem direita do Macacú, não quiz ommitir a existência de algumas ramificações
que se notão destacadas pela margem
opposta, como sejão os brejos do
Riacho, Imbohy, Santa Anna, e outros menores, que todos se escoão no Macacú com
mais ou menos estagnação de fácil remédio.
Devo também
notar, que pela margem direita existem alguns comoros, ou logares mais altos,
por onde se praticarão os caminhos municipaes, como o de S. José da Boa Morte e
Trindade, que todavia offerecem péssimo e perigozo trânsito; porque quando não
estão submergidos acham-se no estado de
um continuado atoleiro : pelo contrário a margem esquerda é comparativa, e
geralmente muito mais alta, enchuta e consistente; e por isso com rasão tem
sido preferida de longa data para a passagem da estrada do Porto das Caixas á Cantagallo.
Observei ainda que a parte pantanoza
existente no districto de Magé é mais considerável, que a de Macacú, e igualmente nociva, como disse
acima; e isto não só em relação à maior
superfície, que alaga e inutilisa, como e mui principalmente, porque estando
ella adjacente, pelos lados do Sul e leste à extincta Villa de S.José, Tambi,
Porto das Caixas, Villa de Santo Antonio de Sá e Pirassenunga, o
desenvolvimentto do principais deletérios, que occasiona, affecta tanto (ou
talvez mais) os habitantes d’esses logares, como os de Magé, que ficão no
extremo opposto, onde o pântano não é tão secundado, ou continuado como para
estes lados.
Seria muito
para desejar, que se tratasse de investigar as causas mais ou menos remotas,
próximas e constantes da sucessiva e gradual retenção das águas e elevação de seu nível, que nellas se nota, de maneira
que parece, que seu volume tenha aumengtado progressivamente; este estudo não
só traria a explicação do facto extraordinário, posto que geralmente desapapercebido
de se acharem hoje submergidos terrenos, que outr’ora, descobertos e enchutos
por grande parte do anno offerecião pingues pastagens e abundante productos de
lavoura, como forneceria mesmo á hygiene publica muitos conhecimentos de
incontestavel utilidade. Mas, pois que um estudo aprofundado de matéria tão
transcendente nãoo póde emprehender a minha débil intelligencia, estudo, que
essencialmente depende d sólidos princípios de geologia e medicina eu não
possuo; passarei ao objecto que me foi incumbido, aventurando todavia algumas
conjecturas á respeito.
Ilustração e litogravura de M. Bullock para o Theatre-Lyrique de Paris, 3º ato ' La peste du Brésil ' ( 1843)
Ilustração e litogravura de M. Bullock para o Theatre-Lyrique de Paris, 3º ato ' La peste du Brésil ' ( 1843)
Estado dos pântanos de Macacú há 70
anos pouco mais ou menos, comparado com o estado presente
Um fato bem notável, cujas consequências devião influir na maneira
de existir d’estes pantanos, e que não forão previstas, teve logar em
Santo Antonio de Sá há perto de 80 annos,
e vem a ser : O rio Macacú na altura da fazenda do Riacho dirigindo-se á
norueste, internava-se então pelo pântano e costeando os terrenos enchutos do
lado da Villa por uma curva de mais de légua de comprimento, vinha receber o
Guapiassú pouco abaixo do logar, que depois se chamou armazém, havendo
tomado direção sudoeste passando entre o
Sambaquy de cima; e os terrenos, onde annos depois se estabeleceu a olaria dos
Fortes.
N’estas circumstancias a Villa tinha dous
portos, um sobre o Casserebú na fazenda dos Nascentes, mais frequentado, por
ser mais proximo, e outro mais afastado no logar do Moreira sobre o Macacú.
Ou para que a Villa possuísse a
comodidade de um porto immediato, ou por algum interesse particular, um dos
primeiros possuidores da fazenda do Riacho, Domingos Leão , emprehendeu levar
este rio á encostar á Villa; e com
effeito com o socorro dos Índios da aldêa de S. José de El-Rey realisou esta
empreza, abrindo um canal desde a sua
fazenda por terreno sempre enchuto, onde se enconstou, passando entre os morros
do Convento e da Peça, em cuja garganta annos depois se construiu uma forte
ponte sobre pegões de pedra, que ainda existem sob ruínas.
Este
accontecimento, de cuja veracidade não é lícito duvidar à vista de uma
tradicção constante e ainda testemunhal, dos indícios manifestos do antigo
leito, e da denominação de – Rio da Valla *,
- que ainda hoje conserva esta actual porção de rio, foi seguramente a principal origem das modificações, porque
há tempos coevos têm passado os pântanos, e todos os inconvenientes , que se tem seguido.
*Rio da Valla ou Valla do Almeirim como ficou conhecida ( denominação alusiva ao
estuário de mesmo nome - no antigo
Ribatejo, Portugal -, onde eram verificadas as incidências de obstrução do
leito e consequente mortandade de peixes.
Outro
facto igualmente importante se verificou a respeito do rio dos Morros ou do
Matto.
A
disposição do terreno em um Valle profundo, flanqueado por cordilheiras,
proximamente paralellas, similhantes e equidistantes; a inferioridade de nível
do leito d’este rio a respeito do de
Macacú; e a sua direecção quase central por entre o solo mais baixo deste
Valle, me induzem a suppôr, que em época ma is remota o Macacú se confundia com
este; por outra, que o rio dos Morros não existia, e que o leito primitivo do rio Macacú seguia esta direcção, a
mais própria, a meu ver, para a reunião commum de toda as vertentes e águas
pluviaes, de que provavelmente elle era o único e final esgoto. A mudança para
o estado em que o achou Domingos Leão, de certo preferível ao actual,
ter-se-hia operado, ou por algum effeicto natural, como uma grossa alluvião, ou
facticiamente, sobre o que existem alguns vestígios e vagas tradicções, como
quer que seja, o facto é, que o rio dos Morros, ou do Matto, não há muito tempo
a achando-se sufficientemente limpo e
desobstruído, offerecia navegação desde a sua foz no Guapiassú até a Lagôa
Morobahy, sendo esta navegação entretida pelos habitantes dos Morros, Rabello,
e outros logares; hoje porém acha-se tão obstruido e estagnado, que apenas em
grandes enchentes póde dar passagem a uma
leve canôa.
Outro facto não menos interessante ao meu
objecto é o seguinte : - o rio Casserebú, ou a expensas da camara, ou dos
fazendeiros, conserv-se quase sempre limpo, principalmente desde a sua barra no
Macacú até a fazenda dos Nascentes, que era adjacente á Villa; sendo ahi um
porto muito frequentado, por ser mais suave a navegação pelo Casserebú, do que
pelo Macacú, cuja velocidade e muito maior, foi ahi qe desembarcarão SS MM. os
Srs D. João 6º e Pedro 1º, augustos progenitores do Sr D. Pedro 2º, quando se
dignarão visitar Villa de Santo Antonio
de Sá. De então para cá a navegação tem diminuído,as limpezas não se têm
renovado, e o rio acha-se ao presente no maior estado de obstrução e
estagnação.
O rio, ou antes a Lagôa Trimerim, nas
visinhanças da Trindade é um pego profundo, coberto de balseiras, que porisso em
vêz de dar esgoto aos brejos e pantanos adjacentes, lhes tornam as aguas estacionarias, com quanto faça barra no Macacú.
Finalmente as mattas abundavão nas visinhanças da Villa, tanto nos terrenos enchutos, como nos alagadiços e alagados, nos logares mais altos.
Depois
da discripção e exposição das circumstancias pretéritas e presentes dos pantanos
de Santo Antonio de Sá, e antes de entrar nos meios de seu dessecamento,
aventarei sempre algumas observações sobre o represamento e elevação do nível d’estas
águas, arriscando depois algumas conjecturas,á respeito das causas da apparição
espantoza e deplorável das
febres intermittentes perniciosas n’aquelle município em 1828.
Alèm
do aspecto, que descrevi d’estes valles cobertos de pântanos, a grande
quantidade de argilla que existe por quase todo o seu solo, é que deve ter sido
o producto da acumulação de lôdo e saibro ,consolidados pela pressão, e ela
acção dos phenômenos ígneos, me induz
à accreditar, que a última camada
do leito d’estes pântanos é de uma natureza sedimentaria composta dos depósitos
e detrictos conduzidos pelas águas correntes e fluviaes, que destacadas das
montanhas e terrenos adjacentes mais elevados pela queda, pressão e atricto das
mesmas águas lhe são fornecidos e extendidos pelas torrentes em maior ou menor
quantidade, segundo o maior,
ou menor volume das águas, e a velocidade de que são animadas; ora , como esta sedimentação se efectua tanto
mais, quanto diminue a acção locomotiva: isto é, á medida que se atenua a
velocidade das águas, accredito ainda, não só que o leito d’estes pântanos deve
necessariamente ter crescido, e se elevado, como que maior quantia de superfície
enchuta devem ter elles coberto. E na verdade, quaes as consequências necessárias
da desapparição dos canaes primitivos e naturaes, como o desvio do Macacú, obsrucção
completa do dos Morros, etc., sinão o reprezamento, a falta de escôo, e de
movimento das aguas d’estes páues, uma vez que
a quantidade das que lhe são fornecidas não pode deixar de ter sido a
mesma ?
Enquanto se operarão pelo correr
dos annos todas estas modificações, que têm tornado a existência actual d’estes
pântanos tão differente da que tiverão em épocas mais remotas, os habitantes
de suas visinhanças ião successivamente sentindo os malignos effeictos da estagnação,
ou estacionamento gradual, que as águas pantanosas ião obtendo; de maneira que
os factos, e a tradicção nos dizem, que n’aquelles primeiros tempos erão desconhecidos
ou desapercebidos, por benignas e insignificantes as febres intermittentes
(vulgo maleitas ou sezões), e ainda em nossos dias vimos o municipio de Santo
Antonio de Sá populoso e opulento, e
considerado geralmente como um dos logares
mais sadios d’esta província, onde os doentes da corte procuravão e obtinhão
seu perfeito restabelecimento. O gráu porem de obstrução, a que ião attingindo
os páues, sua invasão crescente pelos terrenos enchutos, a progressiva
descoberta das mattas, as queimadas repetidas annualmente no tempo das secas,
que expunhão o lodo e a putrefacção vegetal, e mesmo animal, dos brejos ao
desenvolvimento de miasmas pela acção e presença immediata do sol; e muitas outras
causas enfim, que não estão ao meu alcance de assignar, tornarão cada vez mais
frequente a apparição das inermittentes, mais ou menos malignas; de sorte que
com o correr dos annos tal mudança, a meu ver, se operou na naturesa do clima,
que em 1828 ( na minha opinião as causas immediatas de tal acontecimento forão,
entre outras que ignoro, as que abaixo exponho ) houve uma espécie de explosão
tão terrível de febres perniciosas, que, como é sabido, raras pessoa deixarão
de ser feridas, e rara era aquella, que
não sucumbia em poucos ...dias.
quadro de Paulo Nunes/2000, que encontra-se jogado no chão da Casa de Cultura Heloísa Alberto Torres 2015
Grande
sêca havia preccedido á verdadeira calamidade publica, e, ou por acaso, ou pela
nociva rotina dos lavradores, grandes queimadas apareccerão; por toda a parte
sentia-se voragem dos fogos, os pântanos
em grande parte secos, achavão-se descobertos; em fim o fumo produzido em tal
quantidade, que a athmosphera, grandemente d’elle saturada, movia-se em extensas e
espessas nuvens, occultando por toda a parte a presença do sol. Não deve
esquecer também a obra do aterrado de Tipotá teve então principio,
effectuando-se excavação de uma valla da
extensão de 800 braças com as dimensões, que se destinavão à receber o rio
Cassarebú e por conseguinte o producto d’essa excavação achava-se exposto à
acção athmospherica, e nas visinhanças da Villa.
A’
vista do que tenho expendido, e de
outros dados que tenho ds circumstancias dos referidos pântanos, estou
inteiramente convencido de que todo o systema de dessecamento à se adoptar, que
não tiver por base a aproximação possível das circumstancias e que existirão os
mesmos pântanos, addicionando-se-lhe convenientemente os melhoramentos que
actualmente se tornão necessários, será inútil
e improfícuo; e n’esta persuação indico e proponho:
- Que o rio Macacú seja reconduzido
ao seu antigo leito na parte em que corria entre o pântano, e d’onde desviou
Domingos Leão;
- Que este rio seja retificado por cortes, quanto se possa, desde as cachoeiras até a extincta Villa nova de S. José, e que se lhe encanem por sarjetas todos os brejos ou lagoas de sua margem esquerda, quer isoladas , que contiguas.
- Que o rio dos morros seja inteiramente limpo, desobstruído e canalisado por uma valla navegável desde o Rabello até a Trindade, onde terminará na lagoa Treimirim; conduzindo-e á esta valla pelos convenientes ramaes todas as aguas dos brejos e lagoas, que existirem lateralmente não contiguas.
- Que em frente, e na direcção da foz d’este rio, se abra igual valla em direcção o rio Guarahy nos mangues, onde terminará; praticando-se communicação d’esta valla com os riachos existente entre o Guapimerim e o Macacú, por meio de ramaes transversaes.
- Que o rio Guapissú seja encanado par o Guapimerim abaixo de Pirassenunga.
- Que o Cassarebú seja levado em uma linha recta desde a volta da Figueira na fazenda de Joaquim Ferreira Lemos te logo abaixo do Sambaquy grande, dando-se-lhe d’est’arte outra foz no Macacú; que parte de suas águas sejão desviadas para o rio Porto das Caixas, praticando-se uma valla com comporta no Tipotá; e que d’esse logar para cima até a fazenda do Ledo todos os brejos e lagoas lateraes se lhe encanem por convenientes sargetas.
- Finalmente, e em geral, que todos os brejos, lagoas e alagadiços, sejam sarjados e ccommunicados aos rios e vallas, de que forem mais visinhos, conservando-se estes esgotos em perfeita limpeza.
- Que este rio seja retificado por cortes, quanto se possa, desde as cachoeiras até a extincta Villa nova de S. José, e que se lhe encanem por sarjetas todos os brejos ou lagoas de sua margem esquerda, quer isoladas , que contiguas.
- Que o rio dos morros seja inteiramente limpo, desobstruído e canalisado por uma valla navegável desde o Rabello até a Trindade, onde terminará na lagoa Treimirim; conduzindo-e á esta valla pelos convenientes ramaes todas as aguas dos brejos e lagoas, que existirem lateralmente não contiguas.
- Que em frente, e na direcção da foz d’este rio, se abra igual valla em direcção o rio Guarahy nos mangues, onde terminará; praticando-se communicação d’esta valla com os riachos existente entre o Guapimerim e o Macacú, por meio de ramaes transversaes.
- Que o rio Guapissú seja encanado par o Guapimerim abaixo de Pirassenunga.
- Que o Cassarebú seja levado em uma linha recta desde a volta da Figueira na fazenda de Joaquim Ferreira Lemos te logo abaixo do Sambaquy grande, dando-se-lhe d’est’arte outra foz no Macacú; que parte de suas águas sejão desviadas para o rio Porto das Caixas, praticando-se uma valla com comporta no Tipotá; e que d’esse logar para cima até a fazenda do Ledo todos os brejos e lagoas lateraes se lhe encanem por convenientes sargetas.
- Finalmente, e em geral, que todos os brejos, lagoas e alagadiços, sejam sarjados e ccommunicados aos rios e vallas, de que forem mais visinhos, conservando-se estes esgotos em perfeita limpeza.
Nictheroy,
8 de janeiro de 1846.- Felício Fortes de
Bustamante Sá, chefe do 7º districto.
Alberto Santos (pesquisador)
Badureco, Itaboraí, RJ, 27 de dezembro de 2015
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