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quinta-feira, 23 de julho de 2015

Os invisíveis da Comissão Nacional da "Verdade" e o EI - Estado Insano



                     Dona Leopoldina Gomes e seu filho Sebastião Gomes da Silva (lavrador)

Seus sobrenomes não são Goulart, nem Angel, muito menos Paiva. Não moraram na capital, não cursaram universidade, não exilaram-se no exterior.

 É apenas mais uma família de nordestinos, lavradores semi-analfabetos que ousaram lutar por sua terra e defender-se do mal. Brasileiros , que por sua condição social , ficaram esquecidos.

São invisíveis para a Comissão Nacional da Meia Verdade !

 Pedro Gomes dos Santos, natural da Paraíba. Chegou ao Estado do Rio de Janeiro com sua família em junho de 1961. Além da esposa, Dona Leopoldina, os filhos Antonio, José, Lia, Sebastião, do Carmo, Francisca, Jorge e Josué, além de genro e nora. Eram os GOMES: uns eram 'da Silva', os mais jovens 'dos Santos '.
 
 

 De Niterói, migraram para Cachoeiras de Macacú, meses antes de eclodirem as lutas camponesas lideradas por Mariano Beser na fazenda São José da Boa Morte, lutas estas que emprestaram a Macacú o título de “ Havana brasileira “.

        Fixaram-se em Papucaia, na localidade conhecida como Nova Ribeira, no caminho do Cassiano, em direção ao km 23, onde se tornaram proprietários de duas glebas , uma de 22 e outra de18 alqueires. Não eram “invasores” . Faziam parte de um contingente de nordestinos que o governo Silveira alocou seguindo as diretrizes do plano de colonização do leste fluminense.

        Nessa região fronteiriça ao Marubaí, a partir de 1965, o antigo IBRA, chefiado pelo Gal Saraiva implantou um verdadeira política de terror , com a destruição das choupanas, incêndios nas plantações, espancamentos públicos. Há relatos, inclusive, que mulheres eram amarradas, umas as outras, por cordas nos pescoços embebidas com querosene, e depois queimadas vivas. Isto na régião da Quizanga e Vecchi. O terror instalou-se na região, com o despejo de aproximadamente 2.000 famílias de lavradores.

        Estava em curso uma operação “de limpeza” que se estendeu até o ano de 1972.

      Enquanto isto, os GOMES seguiam sua rotina de semear a terra , e de constituírem-se como família. Do clã, Antonio, filho mais velho , casou-se indo para o Coelho em São Gonçalo. José foi montar praça no regimento Sampaio, no Rio. Ficaram em Papucaia, Lia que casou-se com Daniel Nunes, Sebastião com Maria,do Carmo com Otanael, Francisca de 16 anos com Joair da Silva, além dos meninos Jorge de 13 e Josué de 10.

        Seu Pedro Gomes contava com 54 anos de idade... quando em maio de 1969, o Exército invadiu sua gleba, e seu filho Sebastião Gomes da Silva assassinado covardemente por uma patrulha do Exército que fazia uma incursão em Papucaia em busca de “subversivos”. Sebastião que no momento cortava lenha na mata, foi atingido mortalmente por cinco projéteis de fuzil.
 
 

        Foi enterrado como indigente em Maruhy, e para dificultar sua localização o Exército datou sua morte em 28 de maio, quando de fato ocorrera em 12 de julho de 1969.

 
 
 

        A família Gomes vendo-se ameaçada, procurou a proteção do bispo da região, D. Clemente Isnard abrigando-se em Friburgo e com medo de novos ataques saíram do Rio, indo morar no Maranhão, na cidade de Imperatriz.

       Mas a triste sina deste povo trabalhador não terminaria com apenas uma baixa. No Maranhão, os filhos mais novos com 12 e 15 anos, além do genro Daniel, viriam a ser sequestrados por tropas do Exército, e por recusarem-se a servir como guias e mateiros, na região de Pau d'Alho foram sequestrados ns proximidades da fazenda Cascavel, distante cerca de 160 kms de Lagoa Verde, onde moravam.

      Era 06 de agosto de 1971, e esse sequestro não passou no Jornal Nacional, na voz de Cid Moreira !

      Na mesma semana, Seu Pedro e o genro, Joair da Silva, presos  em Imperatriz , passaram pelo QG montão a antiga RODOBRÀS e encaminhados à Brasília, foram recolhidos ao famigerado ao Quartel do Comando Miliar do DF e posteriormente no Batalhão da PE , onde passaram por inomináveis sessões de sevícias e torturas. O genro Joair, libertado em fins de 1974, voltou para casa inválido. Devido aos espancamentos e choques ficou com o abdômen empedrado (como dá para observar na foto. Retornou à sua Papucaia onde viveu apoiando-se em uma muleta até 1985. Morreu jovem ainda, aos 44 anos, em decorrência das sequelas.
 
 
 
 
 Francisca, a filha e Dona Leopoldina. Ao centro Joair, o sobrevivente, já em Papucaia/1980
( na foto, observa-se a protuberância em seu abdômen, decorrente de pancadas e eletro-choque)
 

         Seu Pedro teve sorte semelhante, na “ cadeira do dragão” . Devido às sessões de eletro-choque, ficou inválido com gravíssimas sequelas neurológicas, e nos poucos anos de sobrevida conviveu com desmaios e convulsões diárias, além da depressão que adquiriu pela perda de seus três filhos.
         O único homem da família que sobreviveu , foi um dos genros - Otanael, que embora interrogado acabou sendo liberado dias após.
 
       Neste ano de 2015, completam-se 46 anos da morte de Sebastião, 40 de seu Pedro, 30 de Joair, e 44 do desaparecimento de Daniel Nunes  e dos meninos Josué de 15 e Jorge de apenas 12 anos.

     O Estado Islamico é fichinha em comparação ao Estado Militarista Brasileiro instalado em 64, que sequestrou, torturou, seviciou, mutilou, matou, esquartejou e ocultou os corpos de suas vítimas.
 
                              Ditadura militar nunca mais !
 
 
 
(Alberto Santos)

Um comentário:

  1. corrigindo : na primeira foto vemos os recém-casados Maria do Carmo Silva e Sebastião Gomes da Silva, foto tirada em junho de 1959, no Rio Grande do Norte

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