Dona Leopoldina Gomes e seu filho Sebastião Gomes da Silva (lavrador)
Seus sobrenomes não são Goulart,
nem Angel, muito menos Paiva. Não moraram na capital, não cursaram
universidade, não exilaram-se no exterior.
É apenas mais uma família de nordestinos, lavradores semi-analfabetos
que ousaram lutar por sua terra e defender-se do mal. Brasileiros , que por
sua condição social , ficaram esquecidos.
São invisíveis para a Comissão
Nacional da Meia Verdade !
Pedro Gomes dos Santos, natural da Paraíba.
Chegou ao Estado do Rio de Janeiro com sua família em junho de 1961. Além da
esposa, Dona Leopoldina, os filhos Antonio, José, Lia, Sebastião, do Carmo,
Francisca, Jorge e Josué, além de genro e nora. Eram os GOMES: uns eram 'da
Silva', os mais jovens 'dos Santos '.
De Niterói, migraram para Cachoeiras de
Macacú, meses antes de eclodirem as lutas camponesas lideradas por Mariano
Beser na fazenda São José da Boa Morte, lutas estas que emprestaram a Macacú o
título de “ Havana brasileira “.
Fixaram-se em Papucaia, na
localidade conhecida como Nova Ribeira, no caminho do Cassiano, em direção ao
km 23, onde se tornaram proprietários de duas glebas , uma de 22 e outra de18
alqueires. Não eram “invasores” . Faziam parte de um contingente de nordestinos
que o governo Silveira alocou seguindo as diretrizes do plano de colonização do
leste fluminense.
Nessa região fronteiriça ao Marubaí, a partir
de 1965, o antigo IBRA, chefiado pelo Gal Saraiva implantou um verdadeira
política de terror , com a destruição das choupanas, incêndios nas plantações,
espancamentos públicos. Há relatos, inclusive, que mulheres eram amarradas,
umas as outras, por cordas nos pescoços embebidas com querosene, e depois
queimadas vivas. Isto na régião da Quizanga e Vecchi. O terror instalou-se na
região, com o despejo de aproximadamente 2.000 famílias de lavradores.
Estava em curso uma operação “de limpeza” que
se estendeu até o ano de 1972.
Enquanto isto, os GOMES seguiam sua rotina de
semear a terra , e de constituírem-se como família. Do clã, Antonio, filho mais
velho , casou-se indo para o Coelho em São Gonçalo. José foi montar praça no
regimento Sampaio, no Rio. Ficaram em Papucaia, Lia que casou-se com Daniel
Nunes, Sebastião com Maria,do Carmo com Otanael, Francisca de 16 anos com Joair
da Silva, além dos meninos Jorge de 13 e Josué de 10.
Seu Pedro Gomes contava com 54 anos de
idade... quando em maio de 1969, o Exército invadiu sua gleba, e seu filho
Sebastião Gomes da Silva assassinado covardemente por uma patrulha do Exército
que fazia uma incursão em Papucaia em busca de “subversivos”. Sebastião que no
momento cortava lenha na mata, foi atingido mortalmente por cinco projéteis de
fuzil.
Foi enterrado como indigente em
Maruhy, e para dificultar sua localização o Exército datou sua morte em 28 de
maio, quando de fato ocorrera em 12 de julho de 1969.
A família Gomes vendo-se ameaçada, procurou a
proteção do bispo da região, D. Clemente Isnard abrigando-se em Friburgo e com
medo de novos ataques saíram do Rio, indo morar no Maranhão, na cidade de
Imperatriz.
Mas a triste sina deste povo trabalhador não
terminaria com apenas uma baixa. No Maranhão, os filhos mais novos com 12 e 15
anos, além do genro Daniel, viriam a ser sequestrados por tropas do Exército, e
por recusarem-se a servir como guias e mateiros, na região de Pau d'Alho foram
sequestrados ns proximidades da fazenda Cascavel, distante cerca de 160 kms de
Lagoa Verde, onde moravam.
Era 06 de agosto de 1971, e esse sequestro não
passou no Jornal Nacional, na voz de Cid Moreira !
Na mesma semana, Seu Pedro e o genro, Joair da
Silva, presos em Imperatriz , passaram
pelo QG montão a antiga RODOBRÀS e encaminhados à Brasília, foram recolhidos ao
famigerado ao Quartel do Comando Miliar do DF e posteriormente no Batalhão da
PE , onde passaram por inomináveis sessões de sevícias e torturas. O genro
Joair, libertado em fins de 1974, voltou para casa inválido. Devido aos
espancamentos e choques ficou com o abdômen empedrado (como dá para observar na
foto. Retornou à sua Papucaia onde viveu apoiando-se em uma muleta até 1985.
Morreu jovem ainda, aos 44 anos, em decorrência das sequelas.
Seu Pedro teve sorte semelhante, na “ cadeira
do dragão” . Devido às sessões de eletro-choque, ficou inválido com gravíssimas
sequelas neurológicas, e nos poucos anos de sobrevida conviveu com desmaios e
convulsões diárias, além da depressão que adquiriu pela perda de seus três
filhos.
O único homem da família que sobreviveu , foi um dos genros - Otanael, que embora interrogado acabou sendo liberado dias após.
Neste ano de 2015, completam-se
46 anos da morte de Sebastião, 40 de seu Pedro, 30 de Joair, e 44 do
desaparecimento de Daniel Nunes e dos meninos Josué de 15 e Jorge de apenas 12
anos.
O Estado Islamico é fichinha em
comparação ao Estado Militarista Brasileiro instalado em 64, que sequestrou, torturou,
seviciou, mutilou, matou, esquartejou e ocultou os corpos de suas vítimas.
Ditadura militar nunca mais !
(Alberto Santos)
corrigindo : na primeira foto vemos os recém-casados Maria do Carmo Silva e Sebastião Gomes da Silva, foto tirada em junho de 1959, no Rio Grande do Norte
ResponderExcluir