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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Matriz de Santo Antonio de Sá - subsídios parte 2

            a Matriz de Santo Antonio de Sá  
                                   subsídios  - parte 2



por Alberto Santos

          Dando continuidade aos tres primeiros textos  abaixo, ......

http://vinholivrosehistoria.blogspot.com/2015/01/vovo-elisiaria-e-escravidao-em-papucaia.html?spref=fb

http://vinholivrosehistoria.blogspot.com.br/2015/01/subsidios-para-uma-pesquisa-de-campo.html


http://vinholivrosehistoria.blogspot.com/2015/01/capela-da-ordem-terceira-de-sao.html?spref=fb

..... apresento aqui a conclusão da úlima postagem sobre as ruínas de Macacu.

Nas próximas postagens tentarei abordar :
1- as mudanças climáticas na Bacia do Macacú e
as febres de 1928 ;
2- a topografia da Bacia do Macacú;
3- as manifestações dos negros cativos.

Embora não possa afirmar categoricamente a autoria deste relato transcrito abaixo, tudo me leva a crer, ser da autoria de Joaquim Gonçalves Lêdo. Este opúsculo carrega a marca indelével da forma crítica de escrever deste grande jornalista e libertário, LÊDO.
Fui conferir cada informação e nomes citados : todos eles existiram de fato, nesta época.
Coincide com a aquisição de sua propriedade, a fazenda Sampaio, além de outros pormenores que aparecem subliminarmente dentro do texto.* (PS)





           A Camara, a Matriz de Santo Antonio de Sá ,
a “Casa Parochial” e os cemitérios

(continuação ...) Em frente ao mencionado Cruzeiro e quase já no fim da praça , depara-se com o prédio da Camara municipal, tendo em seu  pavimento a cadeia, subindo-se por uma escada de pedra.

Obra forte e consistente, que mais ou menos resiste; porém mal collocada de pequenas dimensões, e de péssimo gosto architectonico.
 
prédio da Camara e Cadeia
 

As prisões deveriam ser necessariamente insalubres pela humidade que se observa em suas esverdeadas paredes.

Isolado esse prédio,  dele avista-se a Matriz – SANTO ANTONIO DE SÁ .....
 

No frontispício do templo, cujo estado de conservação não é dos peiores, nota-se uma torre em um dos lados, e no centro uma porta estreita, em relação ao tamanho do prédio.

A parte, porém, interna contrista bem e não deixa de causar um pouco de indignação às nossas cousas.

Ao abrir-se a porta da igreja , cuja chave felizmente hoje pára em poder do único comerciante que resta na freguezia, sente-se na espaçosa habitação de Deus, nauseabundo cheiro de morcegos e humidades.

O soalho está coberto de immundicie de aves nocturnas.
Igreja Matriz de Santo Antônio de Sá (1927)
 
 
Existem no templo quatro altares, áfora o altar mór e uma grande sachristia. Restam algumas imagens bem acabadas e grandes; d’entre estas a do Senhor Morto, no altar de N S das Dôres.

Todas porém muito maltratadas, conhecendo-se a falta dos resplendores, que sendo de prata, subtrahiram-se , ficando apenas o de S. Benedicto, por ser este de chumbo. Assim desappareceram, segundo contam, outros valores, taes como sete arrobas de prata,; muitas alfaias ainda podem ser apriveitadas, mas é de esperar que , com o abandono em que se acham, venham a ter o destino que tiveram as pratas.

 Além da antiga e primeira casa da Camara, há mais uma que servio nos últimos dias de Macacú. Edifício espaçoso e de alguma elegância. Referem que ahi residio um Bispo de Goyas.(casa parochial)

                              
                                                                                  o Solar

Há muitas casas, ainda em bom estado, fechadas, outras abertas, deshabitadas e assas arruinadas. Uma d’ellas em, épocas passadas, fora de algum luxo; porquanto o tecto da sala de visita era dourado e de pintura bem fina.

Um cemitério que é contíguo à Matriz , conserva-se murado; porém presentemente, não sabemos porque motivo, sepultam os poucos corpos que apparecem, em um outro que está coberto de matto, aberto e onde provavelmente deram sepultura aos cadáveres da horrorosa peste de 1928, por não haver mais lugar no da Matriz.

Por detraz do convento, corre o rio Macacú que se presta a navegação fácil  desde a Villa de SantAnna. Observam-se vestígios de uma ponte que communicava a povoação da freguezia, com moradores de uma collina defronte aonde dizem , que existio uma olaria, propriedade da família Bustamante de Sá.**

A margem do rio, no lugar da ponte, foi o porto, em que floresceram algumas casas de commercio.

Há hoje apenas quatro ruas, parecendo ter existido mais.

Em um dos lados da Villa, está collocada uma bella fazenda de assucar, propriedade do Sr. Joaquim Ferreira de Lemos ¹ . Um grande portão d’este estabelecimento, já dentro da povoação, servia de passagem aos viajantes e às tropas de Cantagallo pela estrada por dentro do campo ².
 
                     antiga fazenda Riacho (São Bento), onde o frade fogoso teria praticado o crime de morte

É tradição que no supra dito portão, fora assassinado o primeiro dono d’esta fazenda,  de nome Nascentes, por um frade, tendo este relações amorosas com sua esposa
             A viúva, já foragida, tenta vender os bens do finado, em junho de 1822
 
         
                                           mas sempre haverá uma sogra para atrapalhar - janeiro de 1926
 
 

Enfim, o aspecto da Villa, situada em uma elevação, não desagrada a vista.

Poucos são os que restam do tempo em que Ella prosperou. Conhecemos  o tenente coronel Desiderio Garcia da Costa Ramos, que ali exerceo alguns cargos; capitães José Anastacio Lopes e Theodoro Alberto da Silva, que serviram ultimamente como escrivães.

Se não fosse a peste que devastou seus habitantes, seria Macacú actualmente uma importante cidade na Província do Rio de Janeiro; ao passo que hoje, apenas quatro a cinco famílias vivem pobremente ahi no meio de ruínas. E não sabemos porque milagre não tiraram-lhes uma escola subvencionada do sexo masculino.

Será ou não incúria do governo o deixar perderem-se tantas preciosidades ?
 
 depois de tudo saqueado, Aureliano Coitinho se manifesta, em 1946 !!!
 

Quando se lançam sobre o povo vexatórios impostos, em procura de dinheiro, por outro lado lançam-se à depredação tantos valores, fructo de aturado trabalho de nossos pais !!

E não haveria  nos livros e archivos que se perderam, unicamente por descuido, importância alguma ?

Mas ... dir-se-há que importa ?  O  que queremos é uma lei de eleições que nos convenha.
** Feliciano Fortes Bustamante de Sá, médico, proprietário e chefe do 7º distrito da Província
¹  - Joaquim Ferreira Lemos, um dos responsáveis pelas febres do Macacu. Em meio à grande sêca que assolou a região a partir do ano de 1927, Joaquim obrou uma intervenção danosa ao meio ambiente, escavando uma vala de aproximadamente 800 braças, desviando o curso do Casseribu até sua propriedade : o aterro do Tipotá.
Em 1946 fora denunciado por destruição no Convento, mas ficou impune.
 ² - a fazenda Riacho, ficava localizada no aterrado do Tipotá, banhada pelos rios Casseribú e Macacu, se estendia na direção do Escurial. Posteriormente, no início do séc. XX passou a denominar-se Fazenda São Bento (a confirmar)
³ - confirmado o assassínio do Tenente Coronel Antônio Nascentes Pinto. A viúva, Anna Rangel Nascentes, homiziada, ainda tentou vender parte do patrimônio da fazenda , porém os inventariantes do espólio Nascentes embargaram seus direitos. Quanto ao frade fogoso , não se tem informações a que fim levou. Há um homônimo seu, preso junto com cativos em Macacú, por volta de 1846 (a confirmar)
...........
PS: * este relato faz parte do contexto político da época , e o enfrentamento à política de Aureliano de S.O. Coitinho, grande inimigo pessoal de Joaquim Gonçalves Lêdo. Esta refrega política se que durou cerca de 20 anos, se estendeu para além de  1847, quando o fraco coração de Lêdo parou de bater. Nas eleições deste mesmo ano, Aureliano protagonizou uma eleição onde o arbítrio e a corrupção campearam. O irmão de Ledo, José Alves de Araújo Ledo, o mais votado em Itaboraí, foi preso pelas milícias de Aureliano.
 
 
Joaquim Gonçalves Lêdo  - in Memorian
 
 
por Alberto Santos
 
 
 
 

Um comentário:

  1. errata: onde se lê fazenda Sampaio, leia-se Fazenda Sumidouro (AlbertoSantos)

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