1 ª Casa da Camara de Sant'Anna de Japuhyba
Huma viagem ao interior do Macacú - 1836
Nossa primeira admiração ao
passarmos o rio Cassarabu, foi ver o mau estado da ponte, que há na estrada que
dirige a Cantagallo, tanto assim, que nos foi necessário atravessar o Rio com
risco pela grande corrente que então havia.
Perguntamos logo a hum nosso
amigo e companheiro de viagem, o motivo daquelle tão prejudicial desleixo: respondeo-nos que o defeito provinha das
rivalidades que nutrião entre si as Camaras de Itaborahi e Macacu. Bem bom,
retornamos ao nosso amigo, em breve teremos as estradas de ferro em direção à
Minas, e S.Paulo; e por isso este, e outros males estarão remeditados......
Continuamos a nossa derrota, e a
poucos passos nos achamos em um maré magnum, na Fazenda dos Religiosos do
Carmo. Nós notávamos o desmazelo em que se achava aquella grande Fazenda, quase
sem cultura alguma, entretanto que terá pero de duas legoas de testada mais ou
menos, quando nos vimos embaraçados por um grande lago (note-se que serve de
estrada) nós estávamos assas distante de
huma volta qualquer, e eu disse ao meu companheiro: amigo, o remédio eh nadar.
Nós vencemos, em fim o grande Atlantico Carmelita, na estrada de Cantagallo.
Este lago seria redusido a seco com huma pequena sangria, porém desgraçadamente
não se tem attendido ao bem publico, e somente em intrigas, e devisões, se tem
gasto o melhor tempo, e talvez o dinheiro da Nação.
Continuamos a nossa viagem, e então tivemos occasião de notar as
celebradas vargens de Macacú. Há já bastante tempo que na Lei do Orçamento se
decretou huma avultada quantia para o esgoto dos pântanos, e nem ao menos huma só eixada foi ali
aplicada; enretanto o Sr. Chichorro da Gama não teve a bondade de dizer, em que
gastou a quantia orçada para o esgoto dos pântanos de Macacú. Ainda nos lembra
a justa recusa do Sr. Pedro d’Araujo
Lima, por occasião de se pedir na Camara Temporária uma outra quantia paa o
egoto dos pântanos. Como, Senhores,
(disse esse nobre deputado), devemos nós
decretar sempre quantias para esses esgotos, quando não consta até agora, que se
tenha dado princípio a obra; e nem o Ministro tem dado conta do uso que fez
desse dinheiro ? !
Bem se importava o Sr. Chichorro
com os pântanos de Macacú.ou que morresse o mundo inteiro de febres, se elle
estava todo occupado com sua Dezembraida, a meoravel remoção do Tutor de S.M.I.
! He para lamentar o numero incalculável das victimas sacrificadas por essas terríveis
febres. Não se diga que o mal eh irremediável : logo que se sangrem os pântanos,
deixará de existir a cauza mais grave das febres. A empreza não he impraticável;
porque essas sangrias podem ser dirigidas ao rio Macacú, e outros ao mar; e em
Magé do mesmo modo, conforme a situação dos diversos pântanos.
Rio Macacú, na altura de Sant'Anna de Japuhyba
O Rio Macacú he navegável a mais
de 30 legoas de seu curso; suas margens são encantadoras, mas a arte não tem
ainda enfeitado a Natureza, e tudo se conserva como a primitiva. As terras do
Interior do Macacú compensão com vantagem a mão do agrícola que as cultiva:
todas as sementes lansadas ao chão produzem admiravelmente.
Logo que passamos a abandonada
Fazenda dos Carmelitas, entramos a dos antigos Jezuítas, denominada
do - Collegio, que hoje pertence a
Henrique José de Araujo. Esta situação é uma das mais agradáveis que se possa
imaginar : ali avista uma enorme estensão sobre huma planíce que se perde na
Corda das Serras que correm a Lest-North Est denominada dos Orgãos. Esta
dilatada estensão parece conter-se entre altas Serras, o que tornão aos olhos
do contemplador hum prado agradável. Varias destas Serras correm North-North West
pelo mesmo plano, e como que caem perpendicularmente sobre a Corda da dos
Orgãos; outras seguem parallelamente a esta, mas, em curta estensão. As mais notáveis
que fazem limite pelo lado oriental de Macacú, são, Alvarenga, Tapacora,
Braçanan, Sambé, Capivari, Jagoary e Santa Anna.
vista aérea (1.000 mts) da antiga fazenda dos Carmelitas
Ao passar huma ponte que crêmos
ser a do Papucaia, nós nos recéiamos de atranzitar pelo máo estado em que se
achava. He para lamentar, que huma estrada tão tranzitavel como essa que dirige
a Cantagallo se conservem tão más pontes, especialmente, a de Cassarabú, que
hoje ninguém se atreve a passar. Note-se que na Fazenda do Jagoary existe uma
excelente ponte sobre o Rio de Macacú, cuja ponte sendo obra de hum particular,
he todavia a única capaz que vimos em todos aquelles lugares. He dolorozo que
se tenha exaurido os Cofres da Nação; talvez sem proveito, e não se tenha
cuidado das necessidades públicas gritava sempre o Redactor d’Aurora ......
Depois de havermos saptisfeito o
que pretendíamos n’aquelle sertão, tivemos de regressar à Praia Grande, mas não
desejando passar outra vez, pelo mesmo caminho, a fim de não nadarmos huma
segunda vez, buscamos a estrada do Ypiranga em direcção a do Ro Bonito oh ! qquanto
tivemos de nos arrepender . Há nesta estrada huma subida tão íngreme , que
parece quase inaccessível, e por todo o caminho são tantas as barrocas, e
tremendaes, que a cada instante se encontrão perigos. Os Caminhos quase
intranzitaveis, as pontes aluídas, e as febres roubando á Pátria hum sem numero
de Cidadãos; entretanto que os dinheiros, que a Assembleia Geral Legislativa
applicou, a fim de se remediar esse grave mal dos pântanos de Macacú, foi
consumido em outras coisas que não sabemos. Deos dê o pago á essa gente boa,
que assim nos expõem á morte e ás desgraças ! ....
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