A filha do Pastor e a Asa Branca
( Papucaia Antiga, de 1980... um bom lugar pra se viver )
Bom lugar para se viver. Nem sempre
fora assim. Muito antes de conhece-la, Papucaia fora palco de inomináveis atrocidades cometidas pelo
Exército brasileiro contra sua população .
Me refiro à Papucaia antiga, do pós-79,
onde refloresceram as cordialidades e a boa convivência entre as pessoas.
Era início de 1980, e a Capital tornara-se
muito perigosa para mim que havia me jogado de corpo e alma na Campanha pela
Anistia. Vivia eu , a constante impressão de estar sendo vigiado, monitorado. Acabara
de ser convidado pela direção da Faculdade- o SUAM, a nunca mais por os pés na
instituição. O convite veio através de um professor de EPB, coincidentemente
capitão na Aeronáutica. Disse-me ele : Alberto, gosto muito de você, mas a partir
de hoje não posso mais te proteger. Não volte nunca mais aqui.
O recado foi dado e compreendido.
Minhas impressões se tornavam factíveis.
Eu era monitorado !
Nessa época, morava num quarto
alugado próximo à Lapa e não pensei duas vezes. Nessa mesma noite, reuni duas
mudas de roupa e tres livros na mochila , deixando todo o resto para trás, e
parti para a estação das barcas. Abandonei o emprego e nem voltei para receber
meu FGTS. Destino: Itaboraí.
Para fazer passar a hora
atravessei a baía quatro vezes, até que chegasse o amanhecer.
Manhãzinha aportei na casa de
duas amigas, as irmãs Rosaura e Rose, que me acolheram por uma semana, até eu decidir
alugar a meia-água que possuíam no mesmo terreno. Mas ali fiquei
pouco mais que duas semanas : a casinha foi arrombada e revirada de
ponta-cabeça. O sofá onde eu dormia, rasgado literalmente. O “assaltante”
procurava por algo especifico: papéis. Dois anos mais tarde fui descobrir a
identidade do malfeitor. Tratava-se de Joaquim Metralha (Joaquim Miguel Vieira
Ferreira), um maldito integralista do CCC que monitorava os movimentos sociais.
Não me restava outra alternativa
: casa de papai. É nesses momentos críticos que passamos a reconhecer importancia e valor de se ter uma família, e o
que ela representa em nossas vidas.
Fevereiro de 1980, rumei para
Papucaia sem olhar para trás. De início, passava o dia na pracinha, a dos Colonos, com meus três
únicos livros – Dialética da Natureza, de F. Engels, Os 10 dias que abalaram o
mundo, de J.Reed e Marx e a repetição da História (não lembro o nome
do autor ), além das revistas da FEEMA. Eram horas de leitura ali na pracinha.
Logo fiz duas excelentes
amizades, que se revezavam , fizesse sol ou chuva todas as tardes e à noitinha
: Dorinha Jordõ ou Marlete Rubim. Até hoje, tenho as duas bem guardadas no meu
coração.
Passavamos horas conversando,
inclusive sobre o teor daqueles livros estranhos ao cotidiano delas, e que eu
tanto lia. Nos dias de frio, então, ficavamos ali no abrigo da Praça, abraçadinhos.
Não era namoro. Era amor incondicional
entre amigos. Não havia outras intenções. Bom tempos !
O tempo foi passando, e comecei a
lecionar em Itaboraí, em um coleginho bem familiar- o CECADA, em Venda das
Pedras. Ali, eram quatro turmas pela manhã, da 5ª à 8ª, e à noite, outras
quatro: duas de supletivo e duas de 2º grau.
O salário era bem pequeno, mas compensava
pelo prazer de socializar o conhecimento, e pelo bom clima de trabalho que os
diretores propiciavam . Mas o salário era muito baixo, e minha carga
horária semanal não excedia 24
horas/aula. No outro colégio, o Leão XIII, era menos ainda : 8 h do regular + 6
h do pré-Vestibular.
Entre os turnos manha/noite,
ficava uma lacuna de 6 horas de ócio, de barriga vazia zanzando pela cidade. Não
tinha outra saída: ir à Papucaia almoçar, dormir, tomar banho e voltar à noite.
Era duríssima a vida de professor naquela época. Levantava às 5 da manhã e chegava
em casa à uma da madrugada. A maldita 1001 era o nosso pesadelo.
Mas nem tudo é suor e lágrimas na
vida de um professor. Há os momentos de recompensa . E estes viriam exatamente
neste intervalo de tempo entre os turnos. Não como professor de história propriamente,
mas como “explicador de biologia”.
família : pais e sobrinhos
Lembro das que estavam
assiduamente lá em casa: Dona Fidelina, Dona Leopoldina e a esposa do Pastor.
Esta última ia sempre acompanhada da filha mais velha. Não lembro o
nome das duas, apenas dos “detalhes”.
A mocinha sempre levava caderno e
livro, e ficava zanzando pela sala e varanda. Era muito bonitinha: branquinha,
1,60, magra, cabelos castanhos longos. Tinha um sorriso de sapeca e vestia
sempre um vestidinho florido de algodão. A calcinha dela também era de algodão.
Umas com bolinhas, às vezes com ursinhos, noutras com florzinhas.
Outras vezes, a mocinha ficava
sentada de frente à varanda só me urubuservando. E aí era um tal de exercício
de perna que mais parecia sessão de fitness. Era um tal de abrir e fechar
impressionante. Se eu tivesse que compará-la a um instrumento musical, diria
que a filha do pastor era a própria “sanfona
do Luiz Gonzaga” tocando Asa Branca,
pois eu só ficava olhando “a terra ardendo” qual fogueira de São João !
A cada dia ela arrumava um artifício
para esbarrar comigo. Um dia se oferecia para fazer o café. Noutros parecia
sofrer de cistite pois a cada 20 minutos ia ao banheiro só para passar em
frente ao meu quarto, que não tinha porta ( era uma sala de jantar improvisada
como quarto). Passava e dizia oi, com aquele sorriso de quem estava com fome.
Noutros parava e fazia perguntas sobre minha profissão, o que eu ensinava, essa
coisas. Mas essas suas idas aos fundos da casa eram lampejos que não passavam
de 3 ou 4 minutos.
Como sempre fui um sujeito muito
tímido, nunca deixava fluir a conversa. Me limitava a responder as perguntas e
ponto.
Parece que a cada dia o desejo da
mocinha aumentava, até que um dia ela apareceu com a sanfona a descoberto. Aquela
altura até eu também já estava alvoroçado. Nesse dia ela partiu para a ofensiva.
Virou para minha mãe e disse :
dona Zilda , eu vou lá no Beto tirar uma dúvida de um trabalho do colégio. Maquiavélica
!
Ela durante duas semanas foi
conquistando a confiança não demorando nas idas até que chegasse o dia em que
precisasse de mais tempo para saciar suas vontades angelicais. Nessa primeira
vez limitei-me a árdua tarefa de professor, a abordar sobre biologia
humana: anatomia, fisiologia , os
sentidos. Não que biologia fosse minha área, mas a ocasião assim o exigia:
- Tomei seu batimento cardíaco
auscultando seu coração, avaliei sua capacidade repiratória com um boca-a-boca,
com meu termometro tirei sua temperatura e não faltou o papa-nicolau. Colhi material
!
E assim foi. E assim sucedeu.
Não irei entrar em detalhes, é óbvio. Só posso dizer que
até hoje, não conheci criatura tão libidinosa como a filha do pastor (que braseiro, que fornalha, por falta d'água morreu de sede meu alazão ! ).
A partir daquele dia, todo dia era dia de explicador.
Como o tempo para a condescendência era exíguo, costumava fazer suas lições ao
pé da minha cama. Outras aulas eram tomadas na ‘cozinha’, coando café.
Certa vez uma de minhas sobrinhas me pegou no flagra. Era muito pequenininha e não entendia nada daquilo. Aí eu expliquei que estava brincando de trenzinho com a moça. De sorte, a cena não era picante e ficou tudo bem.
Foram
meses de fornicação. De segunda à sexta.
Só não me encontrava com a
criatura no dia de sábado. Acho que ela era adventista e descansava aos sábados,
porque no domingo .... no domingo era
sagrado :
- dava 5 da tarde e ela achava um
jeito de fugir do culto, que o próprio pai ministrava. Nos encontrávamos nos
fundos do Colonial, clube da Papucaia. Era um matagal medonho. E ali , no meio das touceiras de capim colonial acontecia
minha oficina de História Oral . Sei
dizer que em todas as provas ela tirava dez, com excelência. Nunca ficou em recuperação.
Depois de cinco meses, veio a parte
chata : falou em contubérnio !!! Casamento, eu ? aí eu
... minhas atividades político-partidárias prescindiam de dedicação exclusiva, e assim
terminou o entrevero.
E agora que estou terminando esta
história , posso fazer uma confissão sem sentir vergonha alguma : em 1980 eu tinha
24 anos de idade , e todas as experiências anteriores se limitavam ao
costumeiro rala-coxa, beijinhos e amassos. Eu ainda era virgem !
Foi a filha do pastor, dentro da
casa de meu pai , que me tirou a virgindade, e ela sou muito grato.
A filha do pastor : guardo-a em
minha lembrança com profundo respeito , carinho e gratidão.
* como eram vários pastores em Papucaia, com várias filhas, deixem quieto, não dá para identificar qual.
by Alberto Santos
À la télévision française... Présentation : Denise Glaser... 1972
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