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domingo, 28 de junho de 2015

A filha do Pastor e a Asa Branca (Papucaia Antiga,de 1980 ... um bom lugar pra se viver)


                         A filha do Pastor e a Asa Branca
              ( Papucaia Antiga, de 1980... um bom lugar pra se viver )



Bom lugar para se viver. Nem sempre fora assim.  Muito antes de conhece-la,  Papucaia fora palco  de inomináveis atrocidades cometidas pelo Exército brasileiro contra sua população .

Me refiro à Papucaia antiga, do pós-79, onde refloresceram as cordialidades e a boa convivência entre as pessoas.

Era início de 1980, e a Capital tornara-se muito perigosa para mim que havia me jogado de corpo e alma na Campanha pela Anistia. Vivia eu , a constante impressão de estar sendo vigiado, monitorado. Acabara de ser convidado pela direção da Faculdade- o SUAM, a nunca mais por os pés na instituição. O convite veio através de um professor de EPB, coincidentemente capitão na Aeronáutica. Disse-me ele : Alberto, gosto muito de você, mas a partir de hoje não posso mais te proteger. Não volte nunca mais aqui.

O recado foi dado e compreendido. Minhas impressões se tornavam  factíveis. Eu era monitorado !

Nessa época, morava num quarto alugado próximo à Lapa e não pensei duas vezes. Nessa mesma noite, reuni duas mudas de roupa e tres livros na mochila , deixando todo o resto para trás, e parti para a estação das barcas. Abandonei o emprego e nem voltei para receber meu FGTS. Destino: Itaboraí.

Para fazer passar a hora atravessei a baía quatro vezes, até que chegasse o amanhecer.

Manhãzinha aportei na casa de duas amigas, as irmãs Rosaura e Rose, que me acolheram por uma semana, até eu decidir alugar a meia-água   que possuíam no mesmo terreno. Mas ali fiquei pouco mais que duas semanas : a casinha foi arrombada e revirada de ponta-cabeça. O sofá onde eu dormia, rasgado literalmente. O “assaltante” procurava por algo especifico: papéis. Dois anos mais tarde fui descobrir a identidade do malfeitor. Tratava-se de Joaquim Metralha (Joaquim Miguel Vieira Ferreira), um maldito integralista do CCC que monitorava os movimentos sociais.

Não me restava outra alternativa : casa de papai. É nesses momentos críticos que passamos a reconhecer  importancia e valor de se ter uma família, e o que ela representa em nossas vidas.

Fevereiro de 1980, rumei para Papucaia sem olhar para trás. De início, passava  o dia na pracinha, a dos Colonos, com meus três únicos livros – Dialética da Natureza, de F. Engels, Os 10 dias que abalaram o mundo, de J.Reed  e  Marx e a repetição da História (não lembro o nome do autor ), além das revistas da FEEMA. Eram horas de leitura ali na pracinha.

Logo fiz duas excelentes amizades, que se revezavam , fizesse sol ou chuva todas as tardes e à noitinha :  Dorinha Jordõ ou Marlete Rubim.  Até hoje, tenho as duas bem guardadas no meu coração.

Passavamos horas conversando, inclusive sobre o teor daqueles livros estranhos ao cotidiano delas, e que eu tanto lia. Nos dias de frio, então, ficavamos ali no abrigo da Praça, abraçadinhos. Não era namoro. Era amor incondicional  entre amigos. Não havia outras intenções. Bom tempos !

O tempo foi passando, e comecei a lecionar em Itaboraí, em um coleginho bem familiar- o CECADA, em Venda das Pedras. Ali, eram quatro turmas pela manhã, da 5ª à 8ª, e à noite, outras quatro: duas de supletivo e duas de 2º grau.

O salário era bem pequeno, mas compensava pelo prazer de socializar o conhecimento, e pelo bom clima de trabalho que os diretores propiciavam . Mas o salário era muito baixo, e minha carga horária semanal não excedia  24 horas/aula. No outro colégio, o Leão XIII, era menos ainda : 8 h do regular + 6 h do pré-Vestibular.

Entre os turnos manha/noite, ficava uma lacuna de 6 horas de ócio, de barriga vazia zanzando pela cidade. Não tinha outra saída: ir à Papucaia almoçar, dormir, tomar banho e voltar à noite. Era duríssima a vida de professor naquela época. Levantava às 5 da manhã e chegava em casa à uma da madrugada. A maldita 1001 era o nosso pesadelo.

Mas nem tudo é suor e lágrimas na vida de um professor. Há os momentos de recompensa . E estes viriam exatamente neste intervalo de tempo entre os turnos. Não como professor de história propriamente, mas como “explicador de biologia”.
 
 
 família : pais e sobrinhos
 
A casa de papai era muito frequentada, principalmente naquele horariozinho pós-almoço. É que minha mãe era muito prendada em trabalhos manuais , e as senhoras da redondeza iam tomar aulas de crochê e bordados com ela todos os dias.

Lembro das que estavam assiduamente lá em casa: Dona Fidelina, Dona Leopoldina e a esposa do Pastor. Esta última ia sempre acompanhada da filha mais velha. Não lembro o nome das duas, apenas  dos “detalhes”.

A mocinha sempre levava caderno e livro, e ficava zanzando pela sala e varanda. Era muito bonitinha: branquinha, 1,60, magra, cabelos castanhos longos. Tinha um sorriso de sapeca e vestia sempre um vestidinho florido de algodão. A calcinha dela também era de algodão. Umas com bolinhas, às vezes com ursinhos,  noutras com florzinhas.
 
 
 
 
Quando acordava da sesta, eu costumava  ir ao quintal brincar com meus sobrinhos, os japinhas da Uesugi , e ela logo largava os livros para ir brincar de pula-carniça, ou de montar nas minhas costas junto com meus sobrinhos. Era uma esfregação de doido. Às vezes ela subia no pé de goiaba e lá de baixo dava para eu ver toda a “bacia hidrográfica do Macacú”.

Outras vezes, a mocinha ficava sentada de frente à varanda só me urubuservando. E aí era um tal de exercício de perna que mais parecia sessão de fitness. Era um tal de abrir e fechar impressionante. Se eu tivesse que compará-la a um instrumento musical, diria que a filha do pastor  era a própria “sanfona do Luiz Gonzaga”  tocando Asa Branca, pois eu só ficava olhando “a terra ardendo” qual fogueira de São João !

A cada dia ela arrumava um artifício para esbarrar comigo. Um dia se oferecia para fazer o café. Noutros parecia sofrer de cistite pois a cada 20 minutos ia ao banheiro só para passar em frente ao meu quarto, que não tinha porta ( era uma sala de jantar improvisada como quarto). Passava e dizia oi, com aquele sorriso de quem estava com fome. Noutros parava e fazia perguntas sobre minha profissão, o que eu ensinava, essa coisas. Mas essas suas idas aos fundos da casa eram lampejos que não passavam de 3 ou 4 minutos.

Como sempre fui um sujeito muito tímido, nunca deixava fluir a conversa. Me limitava a responder as perguntas e ponto.

Parece que a cada dia o desejo da mocinha aumentava, até que um dia ela apareceu com a sanfona a descoberto. Aquela altura até eu também já estava alvoroçado.  Nesse dia ela partiu para a ofensiva.

Virou para minha mãe e disse : dona Zilda , eu vou lá no Beto tirar uma dúvida de um trabalho do colégio. Maquiavélica !

Ela durante duas semanas foi conquistando a confiança não demorando nas idas até que chegasse o dia em que precisasse de mais tempo para saciar suas vontades angelicais. Nessa primeira vez limitei-me a árdua tarefa de professor, a abordar sobre biologia humana:  anatomia, fisiologia , os sentidos. Não que biologia fosse minha área, mas a ocasião assim o exigia:

- Tomei seu batimento cardíaco auscultando seu coração, avaliei sua capacidade repiratória com um boca-a-boca, com meu termometro tirei sua temperatura e não faltou o papa-nicolau. Colhi material !

E assim foi. E assim sucedeu.

Não irei  entrar em detalhes, é óbvio. Só posso dizer que até hoje, não conheci criatura tão libidinosa como a filha do pastor (que braseiro, que fornalha, por falta d'água morreu de sede meu alazão ! ).
A partir daquele dia, todo dia era dia de explicador. Como o tempo para a condescendência era exíguo, costumava fazer suas lições ao pé da minha cama. Outras aulas eram tomadas na ‘cozinha’, coando café.
Certa vez uma de minhas sobrinhas me pegou no flagra. Era muito pequenininha e não entendia nada daquilo. Aí eu expliquei que estava brincando de trenzinho com a moça. De sorte, a cena não era picante e ficou tudo bem.
Foram meses de fornicação. De segunda à sexta.
Só não me encontrava com a criatura no dia de sábado. Acho que ela era adventista e descansava aos sábados,  porque no domingo .... no domingo era sagrado :

- dava 5 da tarde e ela achava um jeito de fugir do culto, que o próprio pai ministrava. Nos encontrávamos nos fundos do Colonial, clube da Papucaia. Era um matagal medonho. E ali , no meio das touceiras de capim colonial acontecia minha oficina de História Oral .  Sei dizer que em todas as provas ela tirava dez,  com excelência. Nunca ficou em recuperação.

Depois de cinco meses, veio a parte chata : falou em contubérnio !!!  Casamento, eu ? aí eu ... minhas atividades político-partidárias  prescindiam de dedicação exclusiva, e assim terminou o entrevero.

E agora que estou terminando esta história , posso fazer uma confissão sem sentir vergonha alguma : em 1980 eu tinha 24 anos de idade , e todas as experiências anteriores se limitavam ao costumeiro rala-coxa, beijinhos e  amassos. Eu ainda era virgem !

Foi a filha do pastor, dentro da casa de meu pai , que me tirou a virgindade, e  ela sou muito grato.

A filha do pastor : guardo-a em minha lembrança com profundo respeito , carinho e gratidão.
* como eram vários pastores em Papucaia, com várias filhas, deixem quieto, não dá para identificar qual.
by Alberto Santos
 
                                    À la télévision française... Présentation : Denise Glaser... 1972
 
                                                                              
 
                                                                               

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