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domingo, 8 de fevereiro de 2015

O desaparecimento das telas de Dominiquino, na Igreja Matriz de Itaboraí

                             Atitude


Domenichino, São Sebastião.  2-R43-S1-1605 E: Domenichino, São Sebastião Domenichino, orig.  Domenico Zampieri 1581-1641 atribuída.  'São Sebastião', c.  1605-1610.  Óleo sobre tela, 138,5 x 94,5 centímetros.  Dresden, Gemaeldegalerie, Alte Meister.
 


Diante  do descaso  das autoridades quanto à proteção aos bens históricos da cidade, como praças, monumentos, e até mesmo a dilapidação de seu acervo bibliográfico, somos  compelidos a agir, enquanto cidadãos, para além de nossa habitual dedicação pela preservação de nosso patrimônio cultural.
Porém, a cidade de Itaboraí, que desfigurou-se após a chegada das obras do complexo do Comperj, vive neste momento um processo de decadência moral e perda de identidade.
Cultura a partir de agora, deverá ser tratada como caso de polícia.

ÀS 6:30 hs deste domingo, 08 de fevereiro, desembarcava eu de um táxi, a frente da 71ª DP. Para minha felicidade, havia rampa de acesso o que me facilitou a subida. A porta de entrada da DP encontrava-se travada. Bati na vidraça, e logo surgiu um inspetor para fazer o atendimento.
Quando soube do que se tratava, fez cara de poucos amigos, queixando que aquilo não era horas para se registrar um Boletim de Ocorrencia.
 Insisti.
O segundo queixume deveu-se à sua discordância quanto à tipificação do caso ao qual propunha eu o registro do B.O. Recusou-se. Insisti, demonstrando que não arredaria pé dali até que o registro fosse inserido no sistema.
Ora pombas, era hora da soneca, e eu ali a lhe atrapalhar.
Vou consultar minha delegada, resmungo o servidor.
Pois não disse eu, aguardo.
Tres minutos passados, o inspetor voltou, e em seguida uma loira com um aparelho ortodôntico que dava bem uma noção de sua jovialidade.
A princípio recusou-se a fazer o registro, pois em seu entendimento, "desaparecimento" só se aplica a pessoas e não a coisas.
Insisti, argumentando e apresentado um memorial descritivo pré-eladorado nesta madrugada.
Acabei cedendo quanto à tipificação, que acabou sendo lavrada como furto, art.155. Menos mal, pois o caso versa memo sobre ladrões.
Mas o venci pelo cansaço.
Acho que o nome disso é " atitude ", que falta a muitos !
O registro, ei-lo aqui abaixo, e a petição com o memorial descritivo.
Ei-los :


 




Exmº Sr. Dr. Delegado da

71ª DP – Itaboraí/RJ

Ass: Comunicação do desaparecimento de Obra de Arte

 

            Alberto Nascimento dos Santos, brasileiro, viúvo, pesquisador, residente à rua ...., nesta, vem comunicar a esta delegacia o desaparecimento de obra rara de Arte, de valor inestimável, pertencente à Igreja Matriz de São João Baptista de Itaboraí.

Trata-se de dois quadros , óleo em tela, do renomado pintor seiscentista, o italiano Domenichini Zampiére, (Dominiquino) retratando São João, e noutro o Martírio de São Sebastião.

            Consta que as referidas telas, foram adquiridas em Nova York, no ano de 1890, pelo ilustre embaixador itaboraiense Salvador de Mendonça, e que, na virada do século (1902 creio eu), doou-as à Igreja Matriz.

            No início dos anos 70, o pároco da cidade, padre Domingos fora ludibriado por um falso lustrador de metais, que oferecera seus préstimos, roubando quase toda a prataria da paróquia. Aberto inquérito por esta delegacia, apurou-se que tais objetos foram negociados em São Paulo , mas não logrou-se êxito na captura do suspeito e nem de se reaver aquele patrimônio. Talvez por desconhecer o valor das telas acima citadas ,  o ladrão limitou-se ao furto da prataria.(fonte: Jornal do Brasil, ver registro na 71 DP à época)

            Recentemente, dei por falta dessas telas nas descrições de outros (jovens) pesquisadores em suas teses e monografias, por desconheceram sua existência ,  e mesmo a história da doação.

            Decidi investigar o porquê deste desconhecimento academico, e de fato constatei que as telas não se encontram no interior da Igreja Matriz há pelo menos três anos.

            A tela que retrata São João, apurei ter sido retirada indevidamente do templo e levada para a Casa de Cultura Heloísa Alberto Torres, onde encontra-se jogada, sem receber nenhum tipo de tratamento científico para preservá-la, e portanto não justificando sua retirada da Igreja. Apurei ainda que o administrador da Fundação e Casa de Cultura opõe resistência à devolução da mesma a quem de direito: a Igreja Matriz.

            A segunda tela, o Marthyrio de São Sebastião, trata-se de caso mais grave, pois os “historiadores” da cidade e o atual padre sequer sabiam que ela existiu ali, fisicamente, configurando-se a supressão desta obra de arte de valor inestimável, em data incerta, não somente como patrimônio da Igreja, mas como bem cultural da população , em prejuízo das Belas-Artes e da própria memória do gentil doador, Salvador de Mendonça.

            Portanto, venho requerer à V.Sª, Dr. Delegado, que cite para esclarecimentos o Sr. Rogerio de tal, responsável pela Fundação Municipal de Cultura e da CCHAT(casa de Cultura), bem como ao Sr. Roberto de Assis de Almeida da Conceição, padre local entre os anos de 2008 a 2014, e que atualmente exerce o sacerdócio em São Gonçalo, além de outros possíveis envolvidos neste nebuloso desaparecimento.

            Requer a devolução da tela “Santo Antonio” ao prédio da Igreja Matriz  e ainda, que seja acionada a Interpol, na busca do paradeiro da tela “Marthyrio de San Sebastian” , como segue abaixo sua descrição.

Itaboraí, 08 de fevereiro de 2015.

          ____________________________________

          Alberto Nascimento dos Santos
 
 
 
 
                                        Anexo descritivo
Na foto de 1933, percebe-se  existência dos dois quadros de Domenichino Zampiére ,nas laterais próximos ao púlpitos.
                                                                                                               
                                        
            
                                  10 agosto de 1941   pag 4
 
              Matérias de Múcio Leão agosto e setembro 1941
 

 
 
                      Salvador de Mendonça em seu gabinete
 
 
 

Um comentário:

  1. Viva São João ! Esse ano não houve festa na praça porque a prefeitura do senhor Helil faliu junto com o Comperj, mas neste 24 de junho SÃO JOÃO VOLTOU À ITABORAHY ( ... andava sumido passeando por Tanguá). A 71ª mostrou a que veio. Através de seu inspetor Renato Zanco vem diligenciando no sentido de localizar as duas telas de Zampiére Domenichi. No inquérito já foram ouvidas várias pessoas, e está sendo requerido novo prazo ao Ministério Público . De tanto “espremer o limão saiu caldo” e uma das telas, a do padroeiro da cidade de Itaboraí, a de San Jean Baptiste, datada de 1612, já se encontra no seu devido lugar. HOJE eu vi a foto da tela, arquivada no inquérito, e devo vos dizer : ELA É LINDA ! Agora vamos espremer o IPHAN para dar conta da outra, a de San Sebastian, provavelmente vendida clandestinamente para o exterior. Contamos com a INTERPOL !!! Em breve postarei a foto da tela com todos os pormenores do inquérito.

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