RIEMER E OS DOUTORES DA BOLA
(por Alberto Santos ) " cobra-coral , papagaio vintém, vesti rubro-negro, não tem pra ninguém "
Ao findar o ano de 2014, não poderia deixar de fazer um registro especial sobre o centenário do primeiro título terrestre do Clube de Regatas do Flamengo. E o faço reverenciando a memória de uns dos maiores artilheiros rubro-negros de todos os tempos:
Riemer .
(por Alberto Santos ) " cobra-coral , papagaio vintém, vesti rubro-negro, não tem pra ninguém "
Ao findar o ano de 2014, não poderia deixar de fazer um registro especial sobre o centenário do primeiro título terrestre do Clube de Regatas do Flamengo. E o faço reverenciando a memória de uns dos maiores artilheiros rubro-negros de todos os tempos:
Riemer .
Ricardo Guimarães Riemer, nascido
no Rio de Janeiro em 07 de junho de 1884, iniciou sua prática esportiva ainda
estudante, defendendo a equipe de futebol do Colégio Paula Freitas.
Em 1910,
inicia-se como amador pelo Hadock Lobo F.C., em 1911 pela equipe do S.C. Mangueira,
acessos à 1ª divisão . Os livros não falam, mas Riemer também chegou a jogar
algumas partidas pelo Fluminense em 1911, e pertenceu ao mesmo grupo de
Borgeth, que debandou das Laranjeiras. Ajudou a criar o Departamento de
Esportes Terrestres do Flamengo, porém optou por jogar inicialmente no América, em
1912.¹
¹ em abril de
1912, em jogo-treino o América enfrentou o Flamengo., cabendo à vitória ao
rubro-negro por 2x1, gols de Gustavo e Baihano. Riemer , pelo América, marcou o
1º gol da partida.
Até então , sua passagem pelo
futebol fora discretíssima.
Foi quando em julho de 1912, é
inscrito na AMEA, pelo C.R. do Flamengo, para disputar o certame carioca de
1913.
Em menos de dois anos
tornar-se-ia ídolo rubro-negro, ao conquistar o 1º título de futebol do clube e alcançar a co-artilharia do
campeonato, com 8 gols. Embora fosse médio-volante , tornou-se artilheiro:
tinha um potente chute . Qundo a bola vinha no jeito, Riemer ficava meio de
lado, usando a perna direita como encosto, muleta. E aí pegava de bate-pronto
aquela “paulada”. Por isso ganhou o apelido de perna-de-pau.
E dizia: que diabos ! Eu sou inside left( quer dizer,
meia-esquerda) não sou?
Nos anos que se seguiram,
tornou-se o maior artilheiro rubro-negro da década de 10. Ao total de sua
carreira no clube marcou 55 gols em 68 partidas, alcançando a média de 0,81 com
por partida (esta é a 4ª melhor
média até hoje). É dele ainda o maior média histórica
de gols em Fla-Flus : 1,08 , com 13 gols
no total. Pela média, é o maior carrasco do Fluminense até os dias de hoje.
Dividiu glórias com os
companheiros daquele poderoso scratch que tinha por base: (²) Baena, Píndaro e
Nery; Lawrence Andrews, Amarante e Gallo(Arand de Almeida); Baihano, Riemer e
Borgeth; Gumercindo e Arnaldo... Outras formações durante a competição contavam
ainda com Coriol(Coriolano), Angelo, Miguel, Raul, Sidney, Paulo Buarque,Milton,
Orlando, Gustavo, Barra , Joca , Pinho, , Zé Pedro e Antonico.
{ Um detalhe curioso é que às vezes
era escalado um jogador chamado Borja. Na verdade Borja era o pseudônimo utilizado
por Borgeth, pois já era formado em medicina e sua família não queria que ele
continuasse jogando futebol. Assim, Borgeth pedia aos repórteres que o
identificassem como Borja.}
A partir de 1919, passa apenas a
participar dos torneios internos do
clube.
Já em 1913, dividia seu tempo
entre o Flamengo e a Faculdade Nacional de Medicina, onde concluiu seu curso em
1919. Em 1914, ainda participava de jogos pelo Acadhemicos, equipe de futebol
da Escola de Medicina.
( jovens associadas do C.R.Flamengo pousam para foto, antes do baile dançante. Muito glamour na comemoração do 1º título terrestre )
Em 1920, já formado, casa-se e abandona o futebol para exercer seu ofício como médico :
primeiramente como sub-inspetor do Hospital Sanitário Marítimo, posteriormente
assumiu a direção da Hospital de Clínicas Médicas para homens (do Souza
Aguiar), onde aposentou-se compulsoriamente em 1964. No ano de 1943, em decorrencia da II Grande Guerra, é
nomeado Major-Médico do Exército.
Seus últimos dias, revelam toda
sua paixão pelo Flamengo. Entrevistado dias antes de seu falecimento, revelou
algumas boas histórias.
Riemer advogava uma teoria sobre
a popularidade de Flamengo em todo o país. Dizia ele que esta popularidade se
devia à equipe de 1914, pelo fato de que a maioria dos atletas desta equipe (Píndaro,
Nery, Angelo, Miguel, Arnaldo, Gumercindo, Raul, outros ...) como ele,
formaram-se em Medicina, e que passaram a atuar nos vários rincões do Brasil, e
onde estabeleciam seus consultórios,
instalavam na porta de entrada o escudo
e a bandeira do Flamengo. Por conta disso, a maioria dos pacientes, por vezes
tratados gratuitamente , indagavam curiosos sobre o que era aquilo, e sabendo
tratar-se da paixão dos médicos que os atendia , acabavam por simpatizar com o
clube, sem mesmo te-lo visto jogar.
(torcedores no ground Payssandú)
Lembrou dos velhos companheiros
de equipe, dos quais restavam vivos apenas ele e Gallo (funcionário do clube),
escalou para o repórter, a verdadeira equipe-base de 1914 (*), e revelou seu
apelido no clube : perna-de-pau, pois suas pernas eram compridas e muito finas,
além da potencia de seus chutes.
Riemer teve três filhos: Roberto,
Regina e Rosina. Esta última residente nos E.U.A.
Nunca abandonou sua paixão pelo
futebol e pelo Flamengo. Contava ele, que ao casar, sua esposa , Dona Raquel Castro Riemer (cantora
lírica/pianista) que detestava o esporte bretão, o reprimia de ir aos domingos nos
jogos, pois achava um tremendo mau gosto assistir a homens correndo atrás de
uma bola. Riemer encontrava o ‘jeitinho’ brasileiro para driblar sua senhora. Servia-lhe após o
almoço de domingo uma taça cheia de vinho tinto forte (possivelmente do Porto)
e em poucos minutos ela adormecia, momento em que ele ganhava a rua para ir a
São Januário. Dizia ele: voltava feliz pois quase sempre o Flamengo saía
vitorioso.
No auge dos seus 71 anos , tinha
como alegrias cuidar de seus pássarinhos, em seu apartamento da Domingos
Ferreira, além de folhear revistas e fotos antigas de seus gols.
Com o tempo e com a idade
chegando, passou a acompanhar os jogos somente pelo rádio.
Depois de anos, esta rotina foi
quebrada em agosto de 1965. Dias antes
de seu falecimento, Riemer fora ao Aeroporto recepcionar a filha Rosina, o
genro Lee e o neto Richard de 2 anos, e como surpresa, recebeu de Rosina uma
camisa rubro-negra.
Empolgado com o presente que o
fazia relembrar os gritos de “ dá-lhe, Riemer ! ”, entoados no passado pela
torcida rubro-negra, decidiu ir ao
Maracanã.
Era uma tarde de domingo, 8 de
agosto de 1965. Vestindo o manto ,
assistiu a seu último FlaxFlu . Seu último adeus ao mas querido. O jogo
foi melancólico. Riemer resumiu-o, curto
e grossso :
“Achei a partida muito feia,
nunca apreciei o 0 a 0.”
Esta foi a última frase de Riemer sobre o futebol .
Para um artilheiro nato , uma partida sem gols é de doer o coração. E quatro dias após o coração do artilheiro parou de bater. Nas palavras do repórter, “ ... o coração velho e fraco, terminou ontem , por defaslecer o Flamengo, de mais um dos homens que viram o nascimento de uma paixão nacional .”Ficou só a memória do saudoso Riemer .
........ “ Uma vez Flamengo, Flamengo até morrer ! ”
(²) O 1º time que se sagrou campeão
e 1914 era: Baena, Píndaro e Nery; Angelo, Miguel e Armando; Arnaldo, Gumercindo
e Orlando; Riemer e Raul.
... e imaginar que tudo começou com a baleeira Pherusa em 1895 ...
Muito boa a pesquisa ! Sou neta do Riemer e nem sabia de tantos detalhes !
ResponderExcluirSomente um engano - O filho primogênito do Riemer se chama Roberto Riemer e é meu pai. Ele foi um grande jogador de praia, pois seu pai não quis que ele seguisse a profissão de jogador. Meu pai como advogado foi um excelente jogador de praia que parava a todos com seus dribles e equilibrismos com a "Leonor" - era como se chamava sua bola ! Obrigada pela homenagem !! Abs., Vera Riemer
Obrigado pelo comentário e pela correção. Vou pesquisar sobre a Lonor.. rs Abs
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