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sábado, 16 de janeiro de 2016

E.C.Comercial de Itaboraí : Aquela égua era cavalo (1974)





Definitivamente, aquele não era meu dia. Tudo deu errado !

Se a memória não me falhar, era 26 de janeiro , do ano de 1974.
Aquele sábado prometia.  E como !

Acordei cedo e fui a Niterói comprar um blaser, pois à noite
seria o baile de Formatura do Colégio Alberto Torres.

Afora meus jeans Lee e USTop, só tinha uma calça boca
sino rosa (do pantera) e de “social” uma camurçada na cor
grená,- menos chamativa. Teria que escolher um blaser que
combinasse com o grená.
 
Chegando em Niterói, procurei muito por algo que prestasse, mas

com a grana pouca, acabei levando um blaser xadrez de fibra

sintética, preto/azul brilhoso. O bicho era muito feio, e por cima do

grená , me deixava parecendo uma árvore de natal.

 
igualzinho (coisa feia !)

O sábado prometia !

Na volta, meu óculos caiu no chão do onibus, quebrando
uma das lentes.

A essa altura já seria uma árvore de natal míope !

Voltei para casa e fui cuidar de minha rotina diária : Regar as
plantas do jardim, passear com o Duque,- nosso cão, e
recolher seu cocô no quintal.

Para minha infelicidade, na hora de fazer  festinha ,duque
meteu suas patas na minha mão esquerda, arrancando a
pedra rubi (rosada) de meu anel de formatura. Não enxergo
sem óculos para além de 40 centímetros ! Como achar
a maldita pedra na grama e areia sem meus óculos ? Depois
de meia hora de buscas desisti.

O que mais, de ruim, poderia me acontecer naquele sábado ?

Pois aconteceu !

Naquele tempo, tinhamos por hábito mascar chiclete,- o
ping-pong.  E ... acabei quebrando meu primeiro dente
definitivo: um pré-molar.

A desgraça estava completa : eu já era uma árvore de natal
ambulante, míope, banguela,  e com um anel de formatura
sem o principal: o rubi .

Às 19 horas, fomos em tres, marchando os quase 3 kms
entre o Outeiro e a Praça, no centro : eu, Margô e Aílton
Pereira (Baiano).

O baile , no Comercial, começaria às 22. Seguimos para lá.

Tudo transcorrendo normalmente. Solenidade, os discursos
dos professores Aulus, Fabiano e do  Luiz C.Cáffaro, e o conjunto

tocando as músicas do hit parade.

Nas laterais do salão várias mesas para os familiares dos
formandos. O clube estava lotado.



Eu hoje estou sozinho. Eu gasto meu tempo com garotas doces, até que eu recupere o controle, minha mente sobreviva,... o tempo passa e eu sei: eu encontrarei uma garota, mas eu ainda me lembro, e ela me faz chorar...”


 
Aí veio o segundo intervalo. Eu e Ailton fomos para o bar do
clube, escolhemos uma mesa, pedimos um conhaque e uma
cerveja. E eu com o "She made me cry" na cabeça (eu encontrarei

uma garota ) .

Prestes a completar 18, quase um ano na cidade, eu só tinha pego

Helena, a zarolha. Era muito pouco !

Mas aquele sábado prometia !

No balcão do bar encostaram , um recruta (à paisana) com
mais de dois metros de altura e uma moreninha jeitosa, com
um belo rabo-de-cavalo que ia até a metade das costas.

Não era bem uma morena. Era meio amarela . Enfim !

Um conhaque, uma cerveja, outro conhaque e mais outra
gelada,... o sujeito vai ficando mais solto, mais seguro de si,
arrojado, audacioso, conquistador.

Depois da terceira rodada, perdi a timidez. Aproveitei o
momento que o recruta foi ao banheiro e mexi com a
morena: pisquei o ôlho, fiz sinal, mandei beijinho, e nada da
morena corresponder a  meu flerte.

O reco  voltou do banheiro, e os dois ficaram mais um tempo ali no

balcão confabulando.

Ousei um segundo assédio (mandei um beijinho no
assopro), .. foi quando arremessaram uma cadeira em minha
direção.

Aí o tempo fechou !

Corremos para o salão, e a pôrrada começou a cantar. Vc só
via as janelas do salão sendo fechadas. Uma gritaria
medonha das meninas , cadeiras e mesas voando, a zoada
bonita do tilin-tilin das garrafas se quebrando.

Trancaram a porta principal do salão. Quem saiu, saiu.
Quem não saiu, que se defendesse.

À essa altura, eram uns quase 30 rapazes do CAT (Alberto Torres),
encarando o recruta de 2 metros e a morena do rabo-de-cavalo.

O recruta era muito forte: vc quebrava uma cadeira na cabeça

do sujeito e ele parecia não sentir. Ele era a reencarnação do

incrível Hulk. Batia muito !

Lembro que pegou  Hervé e Taquinho pelo pescoço e os

arremessou contra  janela como se fossem dois travesseiros.

Enquanto isso, a moreninha, distribuía as voadoras. A
menina tinha um impulso fantástico. Seu “mortal” era papo
de 2 metros para mais.

Depois de 20 minutos de UFC, e com o interior do clube todo
destruído, chegou um reforço policial: 8 PMs do destacamento de

Rio Várzea. Oito para  conter o recruta, que munido de um gargalo

de garrafa rasgou o braço de um dos PMs,- o tal de Nilão.

Finalmente dominado e algemado , foi levado para a delegacia.

Duas horas depois, um jeep do Exército o resgatou, pondo-o em

liberdade.

A morena do rabo-de-cavalo, em ação cinematográfica “ a la
Bruce Lee “ ,saltou em fuga os 3 metros de muro do clube, e

escafedeu-se.

 
 

Só então vim saber que aquela égua era cavalo : chamava-
se Mario Sato (Mitsunari) , muito conhecido em Papucaia até
hoje.
 
E assim termina a história do atrapalhado Mr.Magoo de Itaboraí,

que pode ser confirmada pelo Ailton Pereira (Baiano), Margô,
Hervé, Batista, Sandrinha, Marcia Boechat, Pedrina, e pelo próprio

Sato, que mora atualmente na Estrada da Granada (Papucaia)
 
 

 

 Alberto Santos

 

 

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